Origem da plavra Caipira

Baseado na Grande Reportagem “Os Rumos da Música Caipira no Vale do Paraíba”, de Anderson Borba Ciola e Fábio Cecílio Alba, a origem da palavra caipira ainda é motivo de controvérsias. Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luiz Câmara Cascudo, a palavra significa “homem ou mulher que não mora em povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público. Habitante do interior, tímido e desajeitado...”. Robert W. Shirley, em seu livro “O fim de uma tradição”, critica a posição de Câmara Cascudo, dizendo que: “Esta definição em si mesma, revela a extensão da grande lacuna social entre os escritores urbanos e os camponeses, pois, de fato, o caipira tem uma cultura distintiva e elaborada, rica em seus próprios valores, organizações e tradições”. Já no Dicionário Aurélio é encontrada a seguinte definição: “Habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução e de convívio e modos rústicos”. Cornélio Pires, jornalista e violeiro, em seu livro “Conversas ao pé do fogo” define a palavra caipira da seguinte forma: “Por mais que rebusque o étimo de caipira, nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos o tupi-guarani capiâbiguâara. Caipirismo é acanhamento, gesto de ocultar o rosto, neste caso temos a raiz ‘caí’, que quer dizer gesto de macaco ocultando o rosto. Capipiara, que quer dizer o que é do mato. Capiã, de dentro do mato, faz lembrar o capiau mineiro. Caapiára quer dizer lavrador e o caipira é sempre lavrador. Creio ser este último o mais aceitável, pois caipira quer dizer roceiro, isto é, lavrador...”.

22.3.11

http://www.jorwiki.usp.br/gdmat08/index.php/Livro-reportagem

Livro-Reportagem: a narração jornalística

O que é livro-reportagem?

"O livro-reportagem é o veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao costumeiro nos meios de comunicação periódicos".³ É a grande reportagem elevada à enésima potência. Ou seja, aborda um fato de interesse público e de potencial investigativo, e o aprofunda de tal maneira a produzir um amplo pânorama que abarca o contexto, as causas e as possíveis consequências ligadas ao ocorrido.

Assim, essa amplitude superior de análise pode ser entendida no sentido de maior ênfase de tratamento ao tema focalizado, tanto no aspecto extensivo (horizontalização) como no aspecto intensivo (verticalização).

O livro-reportagem difere dos demais livros , basicamente, em 3 aspectos: quanto ao conteúdo (que corresponde ao real, ao factual, não à ficção, o que exige veracidade e verossimilhança na escrita); quanto à linguagem, montagem e edição do texto uma vez que, apesar do teor literário presente no mesmo, seu caráter essencial é eminentemente jornalístico (linguagem simples, exata, concisa); e quanto a função, pois por se tratar de um trabalho jornalístico tem as funções correspondentes ao mesmo (informar, orientar, explicar).

Algumas Características

As características mais notáveis do livro-reportagem seriam seu caráter experimental e sua maior liberdade em relação aos textos jornalísticos publicados nos veículos convencionais.

Experimental no sentido de que ousa incorporar contribuições conceituais e técnica provenientes de outras áreas que não a do jornalismo, como literatura e história. Sua linguagem oscila entre o literário, às vezes lírico, e o tom jornalístico informativo. Há uma combinação de cultura erudita, cultura popular e cultura de massa, linguagem coloquial e linguagem formal.

A maior liberdade provém do fato de que o livro-reportagem pode se referir a um tema que não é necessariamente atual (como por exemplo, o Movimento Provo, sobre o qual será falado), mas que repercute na contemporaneidade e na época em que ocorreu não recebeu a cobertura jornalística ou a atenção necessárias. Certos acontecimentos dependem de distanciamento histórico para ter sua importância devidamente assimilada e reconhecida, e o livro-reportagem tem a capacidade de resgatá-los do esquecimento e analisá-los como merecem. É o que Edvaldo Pereira Lima chama de reportagem-história (“desliza para o passado mas cujos efeitos persistem no presente”). Além disso, como dito antes, tal modalidade de texto possui um maior espaço para aprofundar determinado assunto, podendo recorrer e discorrer sobre o passado (recurso muitas vezes inibido pelo número de toques pré-determinado para uma reportagem). Sua pauta é mais flexível, seu leque de fontes é mais amplo, há mais espaço e tempo para que uma análise completa e profunda seja realizada.

Dentro de sua proposta ampliadora, que procura unir permanência à profundidade dos fatos, o livro-reportagem pode ser dissecado da seguinte maneira:

Modelo das Esferas Concêntricas de Edvaldo Pereira Lima

Estudioso desse tipo específico de prática jornalística, Edvaldo Pereira de Lima propõe o modelo das Esferas Concêntricas para que se entenda o tipo de análise executada em um livro-reportagem.

Segundo o autor, o livro-reportagem trabalha de maneira bastante elástica as dimensões de tempo e espaço que delimitam a narrativa jornalística. Cada uma dessas dimensões pode ser vista como um conjunto de esferas de tamanhos variados, sobrepostas umas às outras e que possuem o mesmo centro.

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Centro: fato nuclear que desperta o interesse da cobertura jornalística

1ª Esfera: Espaço geográfico imediato dessa ocorrência

2ª Esfera: Fato secundário e um espaço geográfico adicional relacionado ao acontecimento central

3ª Esfera: Efeitos e repercussões mais importantes

4ª Esfera: Espaço psicológico extra, mais sutil, onde o acontecimento do centro das esferas também provoca ressonância

O autor também relaciona o livro-reportagem à Teoria Geral dos Sistemas, no sentido em que considera a realidade como que constituída de um complexo emaranhado de realidades sobrepostas. Existem conexões diretas ou indiretas entre tudo (ver também Teoria do Caos). A tarefa do livro-reportagem é encontrar tantas camadas das realidades sobrepostas quantas sejam necessárias e explicar o tema central a partir desse enfoque.

Proposta de Classificação

Ainda tomando como base os estudos de Edvaldo Pereira Lima, tal autor propõe uma divisão entre os diferentes tipos de livro-reportagem. De maneira sucinta, os tipos básicos dessa modalidade textual seriam:

- livro-reportagem-perfil

Tem como objetivo evidenciar o lado humano de uma personalidade pública ou de uma personagem anônima (que por algum motivo, torna-se de interesse). Uma variante dessa modalidade é o livro-reportagem-biografia (que costuma trabalhar toda a trajetória de vida da personagem em questão, sem grande enfoque no presente. Exemplos notáveis desse tipo de livro-reportagem são “Olga” e “Chatô – O Rei do Brasil” de Fernando Morais.

- livro-reportagem-depoimento

Busca reconstituir um acontecimento relevante, de acordo com a visão de um participante ou de uma testemunha privilegiada. Seu tom narrativo (o que chamamos de estilo de action-story) costuma ser mais quente, de maneira a retratar o clima dos bastidores do fato em questão.

- livro-reportagem-retrato

Semelhante ao livro-reportagem-perfil, diferindo no objeto de análise: ao invéz de uma figura humana, o livro-reportagem-retrato focaliza uma região geográfica, um setor da sociedade, um segmento da atividade ecônomica, procurando traçar o retrato do objeto em questão (elucida seus mecanismos de funcionamento, seus problemas, sua complexidade).

- livro-reportagem-ciência

Tem como propósito a divulgação científica, geralmente relacionada a um tema específico. Pode apresentar também caráter de crítica ou reflexão.

- livro-reportagem-ambiente

Se relaciona aos interesse ambientalistas, às causas ecológicas. Normalmente possui certo tom combativo e crítico, mas também pode simplesmente tratar dos temas a partir de uma ótica de conscientização da importância da harmonia nas relações do homem com a natureza, de forma desprovida do tom “militante”.

- livro-reportagem-história

Tem como objeto de estudo um tema do passado recente ou algo mais distante no tempo. Entretanto, o tema costuma ter algum elemento que o conecta com o presente, possibilitando um elo comum com o leitor atual.

- livro-reportagem-nova consciência

Focaliza temas das novas correntes comportamentais, sociais, culturais, econômicas e religiosas que surgem em várias partes do mundo, resultante de duas ebulições significativas do Ocidente nos anos 60: a contracultura e o conjunto de movimentos de aproximação à cultura e civilização do Oriente Médio e do continente asiático.

- livro-reportagem-instantâneo

Analisa um fato de ocorrência recente e que, no entanto, já denota seus contornos finais. Tal tipo de livro-reportagem atém-se basicamente ao fato nuclear, mas pode inserir algo de sua amplitude, de seus desdobramentos futuros.

- livro-reportagem-atualidade

Análogo ao livro-reportagem-instantâneo, uma vez que também aborda um tema atual, diferindo do mesmo no sentido em que seleciona os temas atuais os quais se percebe que possuem uma maior perenidade temporal e cujos desdobramentos finais ainda não são conhecidos. Dessa maneira, permite ao leitor resgatar as raízes do fato ocorrido, ver seu contorno no presente e refletir sobre as tendências de seus desdobramentos futuros. Facilita a identificação das forças em conflito que poderão determinar o desfecho do tema enfocado, sem, entretanto, demarcar tacitamente sua conclusão e repercussão.

- livro-reportagem-antologia

Trata-se, basicamente, de uma compilação de reportagens (publicadas na imprensa cotidiana ou até em outros livros) realizada sob os mais distintos critérios. Desde de reportagens sobre diversos temas escritas por um mesmo profissional, ou reportagens escritas por diferentes profissionais, mas cujo tema lhes é comum, ou ainda trabalhos de diferentes jornalistas e sobre temas diversos, mas que guardam em comum um gênero jornalístico ou uma categoria de prática do jornalismo (o opinativo ou o interpretativo, por exemplo).

- livro-reportagem-denúncia

De propósito investigativo, o livro-reportagem-denúncia analisa casos marcados pelo escândalo, com o objetivo de expor ao público injustiças, desmandos dos governos, abusos de entidades públicas ou privadas ou as incorreções de segmentos da sociedade. "Rota 66" de Caco Barcelos entra nessa classificação.

- livro-reportagem-ensaio

Com já diz o nome, esse tipo de livro-reportagem carrega um tom ensaístico, ou seja, possui um presença muito evidenciada do autor e de suas opiniões sobre o tema, com o objetivo de convencer o leitor a compartilhar o ponto de vista do autor. O uso do foco narrativo na 1ª pessoa é freqüente no decorrer do livro.

- livro-reportagem-viagem

Tem como temática uma viagem a uma região geográfica específica e procura produzir um quadro sociológico, histórico, humano, discorrendo sobre diversos aspectos das realidades possíveis do local. Dessa forma, se difere do relato meramente turístico ou daquele dotado de romantismo e exotismo, uma vez que tem uma nítida preocupação com a pesquisa, com a coleta de dados, com o exame de conflitos.


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