Origem da plavra Caipira

Baseado na Grande Reportagem “Os Rumos da Música Caipira no Vale do Paraíba”, de Anderson Borba Ciola e Fábio Cecílio Alba, a origem da palavra caipira ainda é motivo de controvérsias. Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luiz Câmara Cascudo, a palavra significa “homem ou mulher que não mora em povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público. Habitante do interior, tímido e desajeitado...”. Robert W. Shirley, em seu livro “O fim de uma tradição”, critica a posição de Câmara Cascudo, dizendo que: “Esta definição em si mesma, revela a extensão da grande lacuna social entre os escritores urbanos e os camponeses, pois, de fato, o caipira tem uma cultura distintiva e elaborada, rica em seus próprios valores, organizações e tradições”. Já no Dicionário Aurélio é encontrada a seguinte definição: “Habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução e de convívio e modos rústicos”. Cornélio Pires, jornalista e violeiro, em seu livro “Conversas ao pé do fogo” define a palavra caipira da seguinte forma: “Por mais que rebusque o étimo de caipira, nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos o tupi-guarani capiâbiguâara. Caipirismo é acanhamento, gesto de ocultar o rosto, neste caso temos a raiz ‘caí’, que quer dizer gesto de macaco ocultando o rosto. Capipiara, que quer dizer o que é do mato. Capiã, de dentro do mato, faz lembrar o capiau mineiro. Caapiára quer dizer lavrador e o caipira é sempre lavrador. Creio ser este último o mais aceitável, pois caipira quer dizer roceiro, isto é, lavrador...”.

21.2.11

Sobre Cornélio Pires


O Bandeirante da Música Caipira

Jornalista , escritor, poeta, folclorista e cantador, ele foi o primeiro a gravar um disco de música caipira. É também obra sua a divulgação desta música , através de um Teatro Ambulante.

A história do disco caipira, de tão grande sucesso nos dias atuais, começa em maio de 1929, com a primeira gravação da Turma de Cornélio Pires . Era um 78 rotações de rótulo vermelho, que levava o selo Columbia. De um lado, “Jorginho do Sertão” e , do outro, “Moda de Pião”, ambas de autoria do próprio Cornélio.

E quem seria Cornélio Pires,considerado o “bandeirante da música caipira”?

Natural da cidade de Tietê (SP), escritor , folclorista, Jornalista, poeta e cantador , Cornélio nasceu a mais de cem anos atrás , em 1884.Foi com ele que a música sertaneja passou a ser encarada sob o ponto de vista profissional. A princípio, por volta de 1914, Cornélio dedicava-se a organizar espetáculos pelo interior de São Paulo , para divulgar a arte caipira e apresentar artistas sertanejos: eram as Conferências Cornélio Pires.

Com o passar do tempo, aquelas apresentações tomaram jeito de espetáculos, e foi a essa altura que Cornélio Pires tomou a iniciativa de gravar um disco. Ao chegar em São Paulo, porém , viu seu grande sonho cair água abaixo : gravadora alguma queria arriscar um tipo de música que , acreditavam , não teria receptividade junto ao público.

Confiante em seus propósitos , Cornélio não desistiu. Ao contrário , armou-se de toda sua força de vontade , juntou-se a alguns amigos ( as duplas Zico Dias e Ferrinho, Mandi e Sorocabinha, Mariano e Caçula) e pagou para gravar seu próprio disco.Lançava, assim , em maio de 1929, a Série Caipira Cornélio Pires. Pode-se dizer , portanto, que ele foi um dos primeiros “independentes” da música brasileira.

De cara , “Jorginho do Sertão” e “Moda de Pião” desmentiram as previsões das gravadoras :em apenas 20 dia , o disco estourava com cinco mil cópias vendidas. Vitorioso , Cornélio passou a ser assediado por propostas tentadoras das mesmas companhias que antes o ignoraram. Não aceitou esses convites, decidido a continuar financiando seus discos. E sucederam-se as gravações : “Entre Alemão e Italiano”, “Anedotas Norte-americanas”, “Astúcias de Negro Velho”, “Rebatidas de Caipira”, “Numa Escola Sertaneja”, “Coisas de Caipira”, “Batizado de Sapinho”, “Desafio Caipira”e “Verdadeiro Samba Paulista”, grandes sucessos na época .

De sucessos em sucesso , criou em 1946, o Teatro Ambulante Cornélio Pires, composto de dois carros , um com biblioteca e outro com discoteca para percorrer o interior paulista, onde apresentava-se em praça públicas. Em 1948, recebia o patrocínio da Companhia Antártica Paulista, que distribuía bonés com sua marca durante os shows de seu grande astro .

Antes de morrer de um câncer na laringe , em 1958, Cornélio Pires pode se orgulhar por ter aberto caminho para os programas de música sertaneja nas rádios do país. Foi também a luz que indicou às gravadoras o novo e bem-sucedido caminho da música sertaneja. Uma dessas gravadoras ,a RCA Victor, não demorou a formar a Turma Caipira Victor pra lançamentos exclusivos na área . E , no ano mesmo de sua morte, Cornélio Pires saboreou mais uma vitória : a apresentação de um espetáculo caipira no Teatro Municipal de São Paulo, templo sagrado da música clássica. Era , já naquela época, o triunfo da música caipira , e de Cornélio Pires.



Museu de Tietê. Localizado no Largo São Benedito, 20, bem no centro da cidade, ao lado da Igreja centenária de São Benedito. O horário de funcionamento é das 9 às 11 h e das 13 às 17 h, de segunda a sexta-feira. Além de Cornélio, o museu abriga as obras de outros filhos importantes, como por exemplo o famoso músico brasileiro Mozart Camargo Guarnieri, o historiador Benedicto Pires de Almeida, autor da Cronologia Tieteense, cobrindo o período de 1783 a 1978. O museu possui cerca de 2000 peças catalogadas, além de abrigar a biblioteca municipal.




DISCOGRAFIA e FILMOGRAFIA DE
CORNÉLIO PIRES


DISCOGRAFIA DE CORNÉLIO PIRES

Série Caipira"Cornélio Pires"

Gravadora Colúmbia

MAIO DE 1929

- ANEDOTAS NORTE AMERICANAS e ENTRE ITALIANO E ALEMÃO - Anedotas - Cornélio Pires.

- REBATIDAS DE CAIPIRAS e ASTÚCIA DE NEGRO VELHO - Anedotas - Cornélio Pires.

- SIMPLICIDADE e NUMA ESCOLA SERTANEJA - Anedotas - Cornélio Pires.

- COISAS DE CAIPIRA e BATIZADO DO SAPINHO - Anedotas - Cornélio Pires.

- DESAFIO ENTRE CAIPIRAS e VERDADEIRO SAMBA PAULISTA - Turma Caipira Cornélio Pires.

- ANEDOTAS CARIOCAS - Cornélio Pires.

-DANÇAS REGIONAIS PAULISTAS- Cana-Verde-Cururu - Turma Caipira Cornélio Pires.

OUTUBRO DE 1929

- COMO CANTAM ALGUMAS AVES - Imitações - Arlindo Sant¢ Anna.

- JORGINHO DO SERTÃO - Moda de Viola - Mariano & Caçula (da Turma Caipira Cornélio Pires).

- A FALA DOS NOSSOS BICHOS - Imitações - Arlindo Sant'Anna.

- MODA DO PEÃO - Moda de Viola - Cornélio Pires e Turma Caipira Cornélio Pires.

-OS CARIOCAS E OS PORTUGUESES - Anedota - Cornélio Pires.

- MECÊ DIZ QUE VAI CASÁ - Moda de Viola -(de Nitinho Pinto) - C/ Zico Dias e Sorocabinha (da Turma Caipira Cornélio Pires).

- TRISTE ABANDONADO - Moda de Viola, com Zico Dias e Sorocabinha.

- NO MERCADO DOS CAIPIRAS - Anedota - Cornélio Pires.

- AGITAÇÃO POLÍTICA EM SÃO PAULO e CAVANDO VOTOS - Anedotas - Cornélio Pires.

SEM DATA

- UM BAILE NA ROÇA e UMA LIÇÃO COMPLICADA -Cornélio Pires & Arruda.

- AS TRÊS LÁGRIMAS-(Declamação) - Campos Negreiros.

-PUXANDO A BRASA - Anedota - Cornélio Pires & Arruda.

- A MODA DA REVOLUÇÃO - Moda de Viola - Cornélio Pires e Arlindo Sant'Anna,

- VIDA APERTADA - Anedota -Cornélio Pires & Arruda.

- CATERETÊ PAULISTA- Cornélio Pires e Arlindo Sant'Anna.

- NITINHO SOARES - Moda de Viola - Cornélio Pires, Mariano & Caçula (TCCP).

- O BONDE CAMARÃO - Moda de Viola.

- SÔ CABOCRO BRASILÊRO - Moda de Viola.

- CP e Mariano & Caçula (TCCP).

ABRIL 1930

- NAQUELA TARDE SERENA - Contra-Dança Mineira - CP, com Antônio Godoy e sua Mulher.

- TOADA DE CURURU - Contra-Dança Paulista - CP, com Mariano & Caçula (TCCP).

- SABIÁ ME FAIZ CHORÁ - Contra-Dança Mineira - CP, com Antônio Godoy e sua Mulher.

- A BRIGA DOS VÉIO - Moda de Viola - CP, com Mariano & Caçula (da TCCP).

- TRISTE APARTAMENTO - Moda de Viola Mineira, e PORFIANDO - Desafio, com Antônio Godoy e sua Mulher.

- BATE PALMA - Contra-Dança Mineira.

- NAS ASAS DE UM BEJA-FLÔ - Moda de Viola - CP, com A. Godoy e sua Mulher.

- TOADA DO CATERETÊ e TOADA DE SAMBA - CP, com Mariano & Caçula (da TCCP).

- SITUAÇÃO ENCRENCADA - Moda de Viola.

- ESCOIENO NOIVA - Moda de Viola, com Caipirada Barretenses .

JUNHO DE 1930

- BIGODE RASPADO - Moda de Viola, com Mariano e Caçula (da TCCP).

- ESTRAGUEI A SAPAIADA - Anedota -CP.

- A MINHA GARCINHA BRANCA - Toada - Com Antônio Godoy e sua Mulher.

- TOADA DE CANA-VERDE - Com Mariano e Caçula (da TCCP).

- RECORTADO - Caipirada Barretense.

- A FESTA DO GENARO - CP

- UMA SESSÃO SOLENE e NAS TOURADAS - Anedotas -Cornélio Pires.

JULHO DE 1930

- O ZEPELIM - Moda de Viola.

- O SUBMARINO - Moda de Viola - CP com João Negrão.

- CABOCLA MALVADA (Declamação) - Campos Negreiros.

- A PLATAFORMA DO PREFEITO - Anedota - Com Arruda.

- MODA DO RIO TIETÊ- Moda de Viola - CP, com João Negrão.

- CORAÇÃO MAGUADO - Moda de Viola - Com A. Godoy e sua Mulher.

- CAMPO FORMOZO - Moda de Viola - CP, com Antônio Godoy e sua Mulher.

- MODA DA MARIQUINHA - Moda de Viola - CP, com João Negrão.

- O LEILÃO DAS MOÇAS - Moda de Viola.

- JARDIM FLORIDO - Moda de Viola - CP, com João Negrão.

AGOSTO DE 1930

- A INCRUZIADA - Canção (de Angelino de Oliveira) - Com Maracajá e Os Bandeirante.

- BOIADA CUIABANA - Com José de Messias e Os Parceiros.

- AGÚENTA MANECO - Com Maracajá e Os Bandeirantes.

- FOLIA DE REIS - Com Foliões do Zé Messias.

- CANTANDO O ABOIO (de CP e Angelino de Oliveira) - Com Maracajá e Os Bandeirantes.

-TOADA DE MUTIRÃO - Com Zé Messias e Os Parceiros.

- O CABOCLO APANHA e PASSA MORENA - Contra-Dança - Com Zé Messias e Os Parceiros.

SETEMBRO DE 1930

- O JOGO DO BICHO - Moda de Viola, e ARMINDA - Com Mariano & Caçula.

- O SALIM FOI NO EMBRULHO - Anedota - Com Luizinho.

- FUTEBOL DA BICHARADA - Moda de Viola - Com Mariano & Caçula.

- MULHER TEIMOSA - Com Arruda.

-NOITES DE MINHA TERRA - Valsa - Com José Eugênio Campanha e Seu Quinteto.

- CAIPIRA VELHACO - Anedota-Com Arruda.

-O SONHO DE MARIA - Valsa - José Eugênio e Seu Quinteto.

- O MEU BURRO SAUDOSO - Moda de Viola.

- SERÁ OS IMPOSSÍVE - Com Mariano & Caçula (da TCCP).

OUTUBRO DE 1930

- SERENATA - Choro - Com Canário e Seu Grupo.

-QUANDO AS MISSES DESFILAVAM - Anedotas - Com Luizinho.

- BEATRIZ - Valsa - Com Canário e Seu Grupo.

-O SALIM TOREADOR - Anedota - C/Luizinho

SEM DATA

- GALO SEM CRISTA - Batuquinho do Norte - Com Bico Doce e Sua Gente do Norte.

- COMPARAÇÕES - Anedota -Cornélio Pires.

- QUANDO O ZIDORO VORTÔ e OS DESCONTENTES -Anedotas - Cornélio Pires.

- GAVIÃO DE PENACHO - Embolada.

-QUE MOÇA BONITA - Variação de Samba - Com Bico Doce e Sua Gente do Norte.

- RECULUTANDO - Samba do Norte - Com Bico Doce e Sua Gente do Norte.

-BOM REMÉDIO - Anedota - Cornélio Pires.

- O MEU VIVA EU QUERO DÁ - Moda de Viola.

- SE OS REVORTOSOS PERDESSE - Moda de Viola - Com Mariano& Caçula.

- LEGIONÁRIOS, ALERTA! - Marcha - Com José Eugênio e Seu Grupo.

-QUI-PRO-QUÓ - Anedota - Cornélio Pires.

- TRISTE ABANDONADO - Moda de Viola.

- MECÊ DIZ QUE VAI CASÁ - Moda de Viola - Com Zico Dias e Sorocabinha (da TCCP).

- MODA DA REVOLUÇÃO - Moda de Viola.

-BIGODE RASPADO - Moda de Viola - CP e Mariano & Caçula.

- VOU ME CASÁ COM CINCO MUIÉ - Moda de Violas .

- VANCÊ É UM PANCADÃO - Moda de Viola - Com a TCCP.



História da Gravação e Estudos da
Discografia de Cornélio Pires

"O diretor da Colúmbia - representante local da Byington & Company - era o americano Wallace Downey que mais tarde, em 1931, interessado pelo Brasil, seria o produtor do filme "Coisas Nossas". Ariowaldo Pires, o saudoso Capitão Furtado, sobrinho de Cornélio, era o intérprete (falava bem o inglês), de Downey Cornélio pediu ao sobrinho que lhe encaminhasse a Downey .Mas este só tratava da fase preliminar dos negócios da gravadora. Encaminhou Cornélio ao escritório do Dr Alberto Jackson Byington Jr, o proprietário da empresa. Propôs a gravação de anedotas e de músicas caipiras. Contou, o Capitão Furtado ao pesquisador Abel Cardoso Júnior que registrou no seu livro "Cornélio Pires, O Primeiro Produtor Independente de discos no Brasil" Fundação Ubaldino do Amaral, Sorocaba, 1986, que o empresário lhe disse: - Gravarem discos anedotas e violeiros? Isso é mais uma piada sua".

O escritor e pesquisador J. L. Ferrete no seu livro "Capitão Furtado - Viola Caipira ou sertaneja"?, tomando o depoimento de Ariowaldo Pires, registrou a resposta de Byington: - Não há mercado para isso, não interessa". Cornélio insistiu. "E se eu gravar por conta própria"? Aí Byington Jr tentou opor dificuldades: "Bem, nesse caso você teria que comprar mil discos. Quero dinheiro á vista, nada de cheque, e se o pagamento não for feito hoje mesmo, nada feito". Era uma forma, note-se, de descarte peremptório ou, em outras palavras, propostas de quem não quer mesmo fazer negócio".

"Cornélio Pires fez com Byington o cálculo de quanto custaria os mil discos e saiu. Foi á procura de um amigo seu na rua Quinze de Novembro (centro de São Paulo), um tal de Castro, e pediu-lhe o dinheiro emprestado. Retornou em seguida á sede da empresa e, entrando na sala de Byington Jr., jogou sobre a mesa deste, um grande pacote embrulhado em jornal. "O que é isso"?, perguntou-lhe Byington espantado. "Uai, dinheiro"! Você não queria dinheiro?, respondeu Cornélio. Byington abriu o pacote e não disfarçou o seu assombro: "Mas aqui tem muito dinheiro"! "E' que, ao invés de mil discos, eu quero cinco mil" explicou Cornélio Pires". Meio aturdido, Byington Jr tentou convencê-lo de que cinco mil era muita coisa, era "uma loucura". Naquele tempo não se faziam prensagens iniciais em tais quantidades nem para artistas famosos! Cornélio, porém, foi mais além do espanto em que deixou o dono da gravadora: "Cinco mil de cada, porque já no primeiro suplemento vou querer cinco discos diferentes e portanto são 25 mil discos".

Aqui há um engano, que quase todos os pesquisadores têm repetido. No primeiro suplemento saíram 6 discos diferentes. Em vez de 25 mil, foram lançados 30 mil discos, em Maio de 1929, segundo fontes concretas, prestadas pelo criterioso pesquisador o professor Nirez. A confusão se faz e é evidente que se faça, porque em Outubro de 1929, no segundo suplemento, é que Cornélio lançou 5 discos, com também cinco mil de cada, totalizando dessa forma, os 25 mil discos.

Fez o pagamento, pegou o recibo, e estabeleceram o seguinte contrato: os 30 mil discos, da primeira prensagem, teriam uma Série Especial sua, a "Série Cornélio Pires" partindo do número 20.000, com o selo vermelho, custariam 2 mil réis a mais do que os de Byington, e somente Cornélio poderia vendê-los. Acertadas as bases, Cornélio viajou a Piracicaba e de lá trouxe á Capital (com despesa paga) a sua "Turma Caipira", para participar das gravações, com três músicas.

Em 1927, a gravação elétrica chegava ao Brasil, facilitando as gravações. Não era mais preciso dar aquele berro, que o folclorista Paixão Cortês, tem mostrado nas suas palestras, das gravações da Casa A Elétrica, de Savério Leonetti (em 1914) em Porto Alegre. Agora (de 1926 em diante), já se podia gravar com voz normal.

A "Turma Caipira de Cornélio Pires"(em sua 1a. fase) era composta por Arlindo Santtana, Sebastião Ortiz de Camargo (o Sebastiãozinho), Zico Dias, Ferrinho, Mariano da Silva, Caçula e Olegário José de Godoy (o Sorocabinha)."


Mas depois de algumas décadas, a pesquisa e análise de seu segundo biógrafo Macedo Dantas, em "Cornélio Pires Criação e Riso"-(1976), o qual depois de minuciosamente apurar, chegou a conclusão de que a discografia mais precisa que obteve por intermédio do Capitão Furtado, foi a do musicólogo e pesquisador de Fortaleza, diretor do Museu Cearense de Comunicação, Miguel Ângelo Azevedo (Nirez), uma relação constante de todos os discos, dos quais falam Joffre Martins Veiga, Alceu Maynard Araújo e Dr. Oswaldo Estanislau do Amaral. Isto é, há divergências quanto ao número de discos levantados por eles, por exemplo: Joffre, menciona 100 ou 110, mas relaciona apenas 16 discos, já Alceu Maynard Araújo, mencionou em sua palestra, 108, mas relaciona apenas 48, dizendo que não conseguiu relacionar mais 6 discos, os quais não conseguiu encontrá-los. Então, certamente temos 48 discos garantidamente catalogados na Colúmbia. Isto não quer dizer que Cornélio e sua turma Caipira, não gravou os 108 ou 110 discos já ditos por Joffre e Alceu. O que ocorre, ou ocorreu quando das pesquisas feitas pelos nobres estudiosos do assunto, é que já não encontravam na época em que pesquisavam, ninguém que tivesse todos os discos de Cornélio, bem como, apesar de todos os esforços feitos por eles, colheram o que foi possível nos catálogos que ainda encontraram dos discos gravados pela Colúmbia, o que pode, pelo tempo, não ser a relação definitiva de sua discografia. Uma coisa é certa, Cornélio gravou apenas para a Colúmbia, para a Odeon, não. Aliás, Macedo Dantas nem sequer recebeu resposta da carta enviada á Matriz do Rio.

Por isso, em sua obra "Cornélio Pires - Criação e Riso"(1976), Macedo Dantas, na página 337, nos aconselhou na época, para que fôssemos cautelosos e que ficássemos por enquanto com os discos encontrados, que era e é um serviço notável ao Folclore Brasileiro. Ninguém está impedido de investir pesquisas sobre o assunto. Podem, os que assim desejarem, a partir de hoje.

Os dados acima, referentes aos discos lançados por Cornélio Pires, foram coletados no livro "Turma Caipira Cornélio Pires", da autoria de Israel Lopes, estudioso do assunto, editado na comemoração dos 70 anos da música sertaneja, em 1999. O autor diretor do Departamento de Letras do Centro Cultural de São Borja (RS) e é ligado à vários movimentos culturais gaúchos.

FILMOGRAFIA DE CORNÉLIO PIRES

Seu Interesse pelo Cinema, como surgiu?

Em 1922, um ano após publicar "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio esteve no Rio de Janeiro, onde se exibiu em algumas casas de diversões. E, ao apresentar-se num espetáculo beneficente na Associação Brasileira de Imprensa, logo após o encerramento, recebeu os cumprimentos do Maestro Eduardo Souto, santista de nascimento mas que fez carreira no Rio de Janeiro, tornando-se um dos maiores compositores populares de seu tempo, o qual convidou Cornélio para que formassem um grupo regional. Cornélio topou, e o grupo estreou no dia da inauguração do Palácio das Festas, nas festividades comemorativas ao Primeiro Centenário da Independência.

Encantado com o resultado das cenas que haviam filmadas, e terminados seus compromissos com o maestro Eduardo Souto, o nosso querido escritor retornou a São Paulo, onde uniu-se ao cineasta Flamínio de Campos Gatti, e já em 1923, juntos partiram para as filmagens ao Nordeste do Brasil.

Cornélio produziu então, dois filmes, ou melhor, dois documentários, "BRASIL PITORESCO" (1923) e "VAMOS PASSEAR" (1934). O documentário "Vamos Passear", segundo o escritor folclorista Piracicabano, Dr. João Chiarini afirmou em seu discurso em Tietê, na la. semana "Cornélio Pires" em 1959, trata-se do lº FILME SONORO feito de maneira INDEPENDENTE, conforme podemos constatar na Revista Sertaneja, ano II, nº 17, na página 20 da mesma.

Sobre os dois filmes de sua produção, e mais outros três extraídos de suas obras, os senhores leitores poderão obter maiores informações nas transcrições a seguir, da página 327, do livro "Cornélio Pires - Criação e Riso", de seu segundo biógrafo Macedo Dantas.

Filmes feitos por Cornélio Pires


1923 - Brasil Pitoresco

Documentário em colaboração com o cineasta Flamínio de Campos Gatti. Aspectos de cidades Brasileiras. Joffre dá a data de 1923 e Maynard a de 1922. Foi realmente feito em 1923. Em sua carta a B. J. Duarte, Joffre diz que a película foi "rodada em janeiro de 1923, por Flamínio Campos Gatti e pelo próprio Cornélio Pires, focalizando aspectos de Santos, Rio, Bahia e outros Estados do Norte e Nordeste". A seu pedido, foi o filme exibido em Tietê, em Julho de 1959, com geral agrado. Informa, finalmente, que a fita estava (em 1960, data da carta de Duarte) em poder da família de Cornélio Pires. Já naquela época o grande idealista e corneliano alertava que o "filme necessitava de alguns retoques, prejudicado pela ação do tempo". Apesar de minhas pesquisas, não o localizei.

1934 - Vamos Passear

Filme sonoro, produzido após ter feito pequenos documentários (creio que estes se perderam). Vamos Passear focaliza cenas do folclore paulista e nele tomaram parte violeiros, canta dores, sertanejos. Segundo Joffre (p.1 08), "provocou desencontrados comentários". Também não descobri quem o ajudou a realizar a fita sonora.

Filmes Baseados nas obras de Cornélio Pires

1918 - Curandeiro

Roteiro extraído do conto Passe os Vinte (de Quem Conta um Conto...), filme rodado por Antônio Campos, com Sebastião Arruda como intérprete. Foi visto por Zico Pires em Tietê, no antigo Teatro Carlos Gomes. Esta informação foi colhida em Joffre (p. 108).

1970 - Sertão em Festa

Produzido pela Servicine, baseado na novela Sacrificados (Meu Samburá) e dirigido por Osvaldo de Oliveira. Os principais artistas foram Marlene Costa, Nhá Barbina, Francisco Di Franco, Tião Carreiro e Pardinho, Egidio Eccio e outros. O filme teve grande êxito. Nele tomaram parte catiteiros, violeiros, etc. A pré-estréia foi em Tietê, em benefício da Granja de Jesus.

1985 - A Marvada Carne

Pelo Cineasta André Klotzel, tendo ele se baseado mais principalmente na obra "As Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho, o Queima Campo" (1924), obra essa, á qual Cornélio Pires deu continuidade, concluindo e publicando em 1925.

Glossário Sertanejo

Brasileirismos, archaismos e corruptelas coligidos por Cornélio Pires e empregados na "Musa Caipira", "Scenas e paisagens de minha terra", "Quem conta um conto...", e em muitas de suas obras literárias.Foi mantida a ortografia da época por respeito ao trabalho do autor.

Aááb! - Exclamação correspondente a "Ave Maria", "Aáááh!...Maria Credo".

Abancamos - Sentamo-nos em bancos.

Abancar - Correr fugindo ou em perseguição de alguém.

Abrir-o-pala - Fugir correndo.

Acauan - Ave que se alimenta de reptis. Seu canto prenuncia a chuva.

Acabritada - Amulatada - Mestiça de branco e preto.

Aceiro - Terreno capinado ao redor da roçada a ser queimada.

Afincar o pé - Caminhar com energia. Correr.

Afiniz - Doce - Alfenim.

Agarrar ou Garrar - Principiar. Segurar. Tomar um caminho -"Garrei a estrada".

Agregado - Indivíduo que vive parasitariamente em terra alheia.

Agua-de-assucar - Agua com assucar.

Aguado - Diz-se do cavallo que adoece vendo os outros comer ou beber tendo elle fome e sede.

Aguia - Finorio. Intelligente. Astuto.

Aiva - Desorientado. Fóra de si. Misterioso. Esquesito. Sensação indefinivel.

Alentado - Robusto. Forte.

Alimá - Animal cavallar ou muar.

Aluncio - Annuncio.

Amarrano - Cão negaceando a presa. Preando a perdiz.

A'me! - Exclamativo: "homem"!

Amiudá - Diz-se quando os gallos vão diminuindo o canto ao amanhecer.

Amó-que - A modos que... Parece-me...

Amóde - Por causa de...

Andasso - Epidemico.

Antónho Conseiêro - Pantomima extrahida da grande tragedia bahiana em que o governo chacinou sem razão os sertanejos chefiados pelo caipira Antonio Conselheiro.

Anún - Pássaro preto insectivoro, que acompanha os animaes no campo. Há tambem o "anún branco".

Anún - ficar de - Nú.

Apalermado - Boquiaberto. Abobarrado.

Aparêio - Isqueiro, pedra de fogo de fuzil. Apparelho de fogo.

Após-as-aguas - Depois das chuvas. Aguas, tem o sentido de "chuvas".

Aporrinhar - Cacetear. Amolar. "Ser páo". Vem de porrete.

Ara. . . se - O'ra. . . se. . . Vale a pena

Araponga ou Guaraponga - Ave cujo canto imita o retinir do martello na bigorna, entre sons similhantes aos produzidos por lima, ao se afiarem as grandes serras "traçadeiras". Chamam-lhe porisso o "Ferreiro" ou "Serrador": "Gúiraponga", do tupy-guarany.

Araribá - Arvore grande.

Arejar - Estupôr no cavallo que apanha golpe de ar estando suádo.

Arimbá - Vasilha de barro.

Arisca - Mulher facil. Esposa infiel.

Arriba! - Acima! "Arriba o samba"! Sús!

Arrebentado - Fallido. Empobrecido.

Arrendado - (animal) - Descadeirado. Animal de montaria que, forçado pela redia e espora, deixa o trote natural, para marcha, transformando-se assim um "trotão" em "marchador". A definição dada noutros volumes está errada). -Nota do Autor.

Arrotar - Fazer-se valente. Provocar com arrôtos e escarros. Gabolice.

Arrudado - Zangado. Impulsivo. Bravo

Arma-penada - Duende. Assombramento. Espirito que paira sem destino.

Arma do padre Aranha - Celebre assombração que perseguia os tropeiros.

Arvado - Parte em que se encaba a foice.

As-coisa-feito - Feitiçaria. Magia negra. Bruxaria.

Atiçar - Açular. Instigar. Compellir.

Atripeçar - Sentar-se em tripeça.

Atrodia - (istrodia - strudia - trodia - estrodia) - Noutro dia. Ha poucos dias.

Avacalhar-se - Desdizer-se. Retratar-se. Abandonar seus companheiros em politica, sem-vergonhamente, a pretesto de tranzigencia.

Aviamento - Apetrecho para a caçada. Polvora, chumbo e espuletas.

Azeite de carro - Oleo grosso de mamona.

Azeitinho - Oleo de ricino, purgativo.

Azoretado - Irritadiço. Nervoso. Zangado.

Azucrinado - A mesma coisa que "Azoretado".

Bacaiáu - (Bacalhau). Instrumento de tortura usado noutros tempos contra escravos. Era um mixto de relho e chicote, com quatro tiras de couro no extremo, em logar da tala.

Bacazio - Tiro forte, com grande estampido.

Baderna - Bebedeira acompanhada de desordem.

Bagre - Peixe de couro.

Baguá - Bagoal. Cavallo inteiro. Grande. Volumoso.

Bandeirantes - Desbravadores dos sertões brasileiros eram, geralmente, paulista de tempera jamais igualada, pois sem estradas e bussolas, percorreram todo o Brasil á cata de ouro e pedras preciosas. Levaram os hespanhóes até o Rio da Prata e chegaram a collocar marcos de posse em pleno centro do Perú. Os bandeirantes demarcaram as fronteiras da Patria, dilataram a Nação, e fizeram o Brasil.

Muitos delles só se dedicavam á escravisação dos indios.

Bangué - Padiola em desuzo, podendo transportar uma familia. Tinha quatro cabeçalhos para um animal em cada ponta, sendo carregada suspensa sobre dois animaes.

Banzé - Desordem. Conflicto. "Rôlo".

Banzativo - Preocupado. Pensativo. Triste.

Bacapary - Deliciosa fructa sylvestre, trepadeira, menor que a jaboticaba.

Barba-de-bode - Capim (graminea) de terra exgotada. Marca de terra ruim.

Bardeado - Transportado.

Barróca - Despenhadeiro. Valle. Grota. Sulco profundo na terra.

Batuira - Ave ribeirinha, pernalta, a que tambem chamam "monjolinho" ou "monjoleiro".

Bate-pé - Dansa cabocla. O mesmo que "sapateado", "cateretê ou "catira".

Batê-bocca - Discussão. Altercação.

Batuque - Dansa de pretos. Formam roda de sessenta e mais pessoas, que cantam em côro os ultimos versos do "cantador" e ao som dos tambús, - tubos de madeira com uma pelle numa das extremidades e que produz sons altos com diversas graduações, - requebram e saltam homens e mulheres, dando violentas umbigadas uns contra os outros. Usa-se tambem nessas dansas, o quingengue - semelhante ao tambú, tendo inteiriça a metade do volume. O compasso é marcado também com palmas. - Hoje raramente dansa-se o batuque. Confundem-no com o jongo e este com o samba. . . Batuque é dansa de negros e o samba é dansa de caboclos...

Bão-de-sá - Bem temperada (comida).

Bebudo - beudo - Alcoolisado. Embriagado.

Beicinho - Movimento de pouco caso com os labios. Distensão do labio inferior, prenunciando chôro e desaponto.

Bentinho - Medalha com imagem benzida pelo padre romano.

Berne - Verme que se introduz na pelle das aves e no couro dos animaes.

Bitatá - Fogo fatuo. Do tupy guarany: "Mboytatá" - mboy:cobra, - tatá: fogo. Diabo. Espirito dos não baptisados.

Birro - nome onomatopaico de um passaro que procura para habitação casas e igrejas velhas.

Boava - Portuguez, no sentido pejorativo. Do tupy guarany "Amboabaê" - pessoa estranha.

Bobagem - Tolice.

Bocage Palavriado insultuoso e depravado.

Bocó - Vasilha feita de couro ou crosta do tatú: sem tampo o bocó está sempre aberto, d'ahi chamarem "bocó" ao "bocca-aberta", palerma ou bobo, ou "bobó".

Bocó - Pateta.

Bodoque - Arma rustica de pau em arco, com cordas e malha para arremesso de pedras ou pelote de barro.

Bolantim - Circo de cavallinhos. Artista equestre ou gymnasta.

Bolo - Pancada com a mão, palmatoria ou regua, na palma da mão.

Botá-a-cuié-torta - Intrometter-se onde não é chamado.

Bóto - (a faca) - Metto a faca.

Botá - Pôr. Collocar.

Braba - Bravia - (Sertania) - Inculta, desconhecida.

Branca - Aguardente de canna.

Bragado - Cavallo manchado de branco e zaino.

Brascuiá - Vasculhar.Remexer no fundo do bolso.

Broca - Ferida profunda que só ataca as mãos, não os pés, do cavallo ou burro.

Bruaca - Grandes bolsas de couro crú, para transporte em lombo de animal - Duas bruacas formam o cargueiro.

Bruaca - (pejorativo) - Mulher velha, imprestavel.

Bufar - Dizer-se valente.

Bugio - Macaco barbado. Engenhoca para canna; produz sons na moagem iguaes ao roncar do bugio.

Bugre - Selvicola - Indio do Brasil.

Buquinha - Beijo.

Buré - Sopa do caldo de milho verde.

Burcão - Bulcão - "Cummulus" prenunciadores de chuvas.

Burbuia - Bolhas de ar que sóbem á tona d'água; bolhas de puz. Do tupy-guarany "bubúi": sobre-nadar.

Buta - (comer) - Ser logrado, enganado. Butia, é um vegetal medicinal, muito amargo; o estrangeiro, metido a sabichão, ao ver-lhe o fructo, colhe, elogia-lhe a doçura e. . . mete-lhe os dentes. . . Comeu Buta. . . a fructa é amarga.

Buxa - Logro, velhacamente preparado num negocio ou barganha.

Cabeça secco - Soldado da policia.

Caboclo - Caipira cor de cuia ou cobre, descendente dos bugres.

Cabra - (bom, valente, sarado, etc.) - Individuo.

Cabra - Mulato, ou mulata.

Cabrita - Mulata nova.

Cabreúva - Madeira de lei tambem chamada Oleo ou balsamo.

Cabórge - Força mysteriosa. Valentia sobrenatural. Força occulta proctetora do valente.

Caça - Animaes selvagens.

Caça foice - Vagabundo. Homem inutil.

Cadorna - Pequena perdiz - codorna.

Caguira - Azar. Caiporismo. Medo.

Cahidas - (mulheres). Apaixonadas.

Caieira - Monte de lenha que, logo depois de aceza, toma o nome de fogueira.

Caiçara - Caboclo ruim, incorreto. Não uzam os caipiras do planalto a expressão caiçara, como denominação de caipira da beira-mar. No tupy guarany, "caaiçá" quer dizer "cerca de ramos a que se recolhem os peixes pescados". "Caí" tambem quer dizer o gesto do macaco tapando o rosto. . . Gesto commum ás crianças, caipiras. . . Caiçára tambem quer dizer trincheira, paliçada, arraial.

Caipira - Por mais que rebusque o "etymo" de "caipira", nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos no tupy guarany "Capiabiguára". Caipirismo é acanhamento, gesto de occultar o rosto; neste caso, temos a raiz "caí" que quer dizer: "Gesto do macaco occultando o rosto". "Capipiara", quer dizer o que é do mato. "Capia", de dentro do mato: faz lembrar o "capiáu mineiro. "Caapi", - "trabalhar na terra, lavrar a terra" - "Caapiára", lavrador. E o "caipira" é sempre lavrador. Creio ser este ultimo caso mais acceitavel, pois, "caipira" quer dizer "roceiro", isto é, lavrador.

Sinonimos de "caipira" conheço apenas os seguintes-"Capiáu", em Minas; "quejeiro", em Goyaz; "matuto", Estado do Rio e parte de Minas; "mandy", sul de S. Paulo; guasca ou gaúcho no Rio Grande do Sul; "tabaréo", Districto Federal e alguns outros pontos do paiz; "caiçara", no litoral de S. Paulo e em todo o paiz, "sertanejo".

Caipóra ou capóra - Infeliz - Do tupy-guarany: "Caapó" -mateiro. Pessôa do mato. Duende sertanejo, protector das caças, anda montado num grande porco selvagem.

Calhambóla - V. canhimbóra.

Caimbra - (doença). Camaras.

Cambuquira - Grelos, brotos de aboboreira.

Campear - Procurar.

Cambetear - Andar tropegamente. Empurrado, correr sem querer batendo uma perna na outra, quasi cahindo.

Cambaio - Perna torta. Que puxa por uma perna no andar.

Cambito - Pernil de porco. Peça para apertar correias e arreios.

Camera - Camara Municipal.

Canelleira - Arvore imponentemente alta.

Canhimbóra ou Canhambóra - Escravo fugido, tornado selvagem nas matas. Do tupy-guarany - "cañybó": o que foge muito.

Canfrô - Alcanfora.

Candimba - Lebre.

Comatio - Corda de viola.

Capêta - Diabo - Satanaz.

Capoeira - Mata de foice, ou mata nova nascida depois de derrubada a mata virgem. Do tupy-guarany: "Caa - mata- "poera" - que foi.

Capoeirão - Capoeira grossa quasi como mata-virgem: "capoeira de machado".

Capim - Graminea - Do tupy guarany "Caapim".

Carpir - Cortar cerce o pequeno mato. Tupy-guarany, "Caapi".

Carapina - Tupy-guarany Carpinteiro.

Carona - Peça de couro collocada sob o arreio e sobre os baixeiros. Gozar sem pagar um divertimento.

Carpa - Capinação.

Capanga - Indivíduo assalariado para guarda de alguem, e que obedece quando o pagante manda agredir ou matar. Em Minas, Goyaz e Norte, tambem têm o nome de "jagunço".

Capanga - Pequeno sacco que se traz a tiracollo.

Cardume - (de peixe) - grande quantidade.

Cardósa - Feminino de Cardoso, como Ribeira o é de Ribeiro.

Carreiro - Trilho feito e seguido pelas caças.

Carreira - Rima obrigatoria nas danças caipiras. Ha a carreira do "Sagrado" (toda a rima em ado), ha a de S. João, do Itararé, do Marruá etc.

Carancho Ave de rapina. O maior dos gaviões.

Carreação - Diarrhéa. Desinteria. "Destempero".

Carreador - Caminho improvisado na lavoura para se tirar em carros o producto da lavoura.

Catingueiro - Variedade de capim. Pequeno veado.

Caugdo ou Cáudo - Cágado.

Cavorteiro - Velhaco.

Caraminguás - Miudezas. Dinheiro miúdo achado no fundo da algibeira ou da mala. Tupy guarany: "Carameguá" -caixa ou cesto para miudezas.

Catira ou Cateretê - Dansa de caboclos formando duas linhas de seis ou mais pessoas, dois a dois, frente a frente, com violas. Cantam em dueto os cantadores seus amores ou os factos principaes do bairro e redondezas, respondendo o côro, sapateando nos intervaílos sob compassos marcados a palmas. O som dos pés no chão e as palmas formam variada musica.

Casaca de ferro - Empregados encasacados de circos de cavallinhos. Serventes encasacados.

Cassununga - Pequena e bravíssima vespa.

Catirina - Prostituta.

Cavado - (amigo, dinheiro). Arranjado. Conquistado.

Cerne - Amago da madeira. Pau que dentro d'agua não apodrece. Estar no cerne (homem) resistir o tempo; não envelhecer.

Cêrto de bocca - Cavallo adestrado e docil ás redeas.

Cerrado ou cerradão - Mata rachitica e escassa em terras que absolutamente nada produzem; nem capim de bôa qualidade.

Cerigote - Arreio semelhante ao lombilho.

Ceriema - Ave pernalta dos campos.

Cerelepe - Espécie de esquilo. Canxinguelê, do Norte.

Chavié ou xavi - Desinchabido - Desapontado.

Chan-chan - Ave trepadora que com seu canto avisa a approximação de alguem, avisando o caipira. É nome onomatopaico. "Cão-cão", do Norte e "Can-can", dos bugres.

Chabó - Andorinha grande de cabeça chata. Taperá-guassú.

Chapadão - Crapada - Rechã - Planalto. Araxá.

Charrôa - Remate de uma obra de couro trançado.

Chimbica - Jogo de cartas tambem chamado manilha.

Chimburé - Peixe de escamas, d'agua doce.

Chico-lerê - Passaro patéta. . . Paulo-pires; jucurêrê.

Chichica - Escremento. Sujidade.

Chiqueirador - Grosso relho com cabo de madeira em forma de chicote.

Chimbéva (homem). Nariz chato, do tupy guarany: "Ti": nariz; "péva": chato.

Chilenas - Esporas grandes.

Chilipe - Carcere.

Chilique - Desmaio.

Choren - Cão sarnento. Gafo.

Chuva - Bebado - Alcoolico.

Chuãã - Cesto ponteagudo para transporte de fructas. É tupy guarany.

Chucro - Bebado - Cavallo não domado ou amansado.

Chupim - Passaro preto menor que o vira-bosta. Come os óvos do tico-tico e põe os seus no lugar, criando o tico-tico os filhos do chupim, apesar da enorme differença. O tico- tico é rajado e o chupim é preto.

Chupim - Marido de professora quando sustentado por ella.

Chumbeado - Bebado.

Cobre - Dinheiro mesmo em papel moeda.

Cócre - Pancada com os "nós dos dedos" na cabeça, tendo a mão fechada.

Cócre de - Cocoras. Sentado sobre os proprios calcanhares

Cogote - Toutiço, cangote.

Coivara - Galhos e ramos que resistiram o fogo das queimadas, ficando apenas com as cascas queimadas ou chamuscadas. Geralmente os autores têm confundido "coivara" com "encoivarar", que quer dizer reunir as "coivaras" para queimar, afim de "destrancar" a roça.

Colondria - de ladrão - Quadrilha de ladrões.

Como que - Extremamente.

Comeu-chão - Venceu grande distancia, em marcha.

Consoante - De accordo. Conforme.

Convencido - Soberbo. Emproado. Vaidoso.

Coró - Verme. Bicho de pau pôdre.

Coróte - Ancorote. Vaso de madeira em fórma de pequeno barril portatil a tiracolo.

Corymbatá Peixe de escama, papa-terra.

Corpo. - Cadaver.

Corruira - Passarinho caseiro insectivoro. Carriça - Cambaxirra, do Norte. Ha a "corruira d'agua" que faz seus ninhos labyrinthicos de milhares de pausinhos, impenetrável para as cobras e mais inimigos.

Criozena - Petroleo, Kerozene.

Cren-dós-padre - Creio em Deus, Pae.

Crioulinhos (Em desuzo) - Pretinhos, filhos de escravos.

Cria - (estar com) - Filho novo de animal cavallar, caprino, ovino ou bovino.

Curupira - (No tupy guarany não ha r forte). Duende selvagem. do Norte, pouco conhecida é a sua lenda em S. Paulo.

Cuzarruim ou Coiza-ruim - Satanaz - Diabo.

Curió - Passaro canoro dos pantanaes.

Cuja - A metade de um porungo ou cabaça.

Cuitélo - Beija-flor. Colibry.

Cuipeva - Colhér.

Cuipé - Pá de madeira para o forno.

Cuéra - Decidido. Valente. Bom. No tupy-guarany quer dizer convalescente.

Cuiára - Habil no jogo. Velhaco. Espertalhão. Rato silvestre.

Cumieira - Parte mais elevada da casa.

Currução - Molestia nervosa. Deita-se a victima, sem dores, e não ha o que a faça deixar o leito. Come se lhe dão comida, sinão, pouco se incomoda.Há moléstia semelhante que na França chamam "corru".

Cumerações - Calculos.

Curtindo - Suportando, triste, uma paixão ou ciume.

Curiango - Ave nocturna.

Cururú - Dansa em que tomam parte os poetas sertanejos, formando roda e cantando cada um por sua vez, atirando os seus desafios mutuos. Os instrumentos usados são: a "puyta", (Instrumento africano trazido pelos escravos), rouquenha, em forma de um pequeno barril tendo o fundo de couro de cabra com uma varinha ao centro; a trepidação produzida com um panno molhado empalmado pelo executante, produz o som, um verdadeiro ronco; o "réqueréque" que é um gommo de bambú, de meio metro, dentado, em que o tocador passa compassadamente uma palheta do mesmo vegetal, secco; o "pandeiro", os "adufes", e a celebre "viola". Os "cururueiros" cantam sem amostras de cansaço, desde o anoitecer até o amanhecer.

É uma dansa mixta do africano e do bugre.

Dante - Antigamente. N'outros tempos.

Dar-volta - Exterminar. Acabar. Matar.

Debruços - Em decubito dorsal.

Decumê - Comida aos porcos. Comida.

Decuada - Extracto da cinza para aproveitamento da potassa.

De-já-hoje-já-hoje - Ainda pouco. Agora pouco. A poucos momentos.

De-mão - Auxilio gratuito no serviço.

Desgranhado - Desgraçado. "Maldito"!

Desguaritado - Extraviado. Desorientado. Sem guarida.

Despique - Acinte. Disputa. Represalia. Desafio (de viola) -Vingança.

Desbronque - Grande desgraça. Mortandade em tiroteio. Depindurar - Pendurar.

Depindura - Na imminencia de uma queda ou de empobrecimento.

Déstão - Dez tostões.

Destrocido - Agil. Desembaraçado. Direito.

Descanhotar - Desnocar - Destroncar. Desengonçar. Desarticular.

Diá... - A crendice faz com que o caipira não pronuncie ou nunca complete a palavra diabo. Ou diz: "Diá - Dianho

Tinhoso - Capeta - Malino - Bicho - Pé de pato - Bóde preto - Tentação - Cuizarruim - Satanais - Cifé", etc.

Diagonal - Tecido de algodão, preto, em linhas diagonaes.

Dór - Dó.

Dourado - Peixe de escamas, d'agua doce - É o Piraju dos indios - "pira" peixe - "jú" (ba) amarello.

Douradilho - Cavallo meio dourado.

Duas e meia bôa - Sempre que o caipira se refira a distancia, dirá legua quando em numero inteiro; havendo o quebrado de meia legua, não pronuncia elle a palavra legua; dirá: 2 1/2, "5 1/2 puxada" - "3 1/2 bôa", etc.

Dunga - Corresponde ao "Dégas!" Quer dizer, com emphase, "cá eu!" "Quem venceu? O Dégas! Sou mesmo um "Dunga!".

Eá! - Exclamação uzada pelas mulheres, quando muito admiram. Montoya registra no seu livro: "Lingua Guarany" essa exclamação só uzada pelas mulheres.

Eito (de tempo) - Extensão. Pedaço. Parte da lavoura entregue ao capinador.

É mão - Occasiáo (de se ir embora). "É mão de trabaiá".

Embira - Resistente fibra da madeira chamada jangada.

Embira - (Estar na) Preso. Atado. Coberto de dividas.

Encamboiado - Ligado dois a dois. Encomboiados.

Encrenca - Embrulho. Desordem. Atrapalhada. Pendencia.

Ençampar - Enganar. "Çampa", quer dizer mentira.

Encambitar (atraz delle) - Correr em perseguição de alguem.

Enfiar a agua no espeto - Vadiar.

Engrovinhada - Paralitica. Engrossamento de articulações. Mirrada.

Entojado - Cheio de si. Vaidoso. Emproado.

E... puca - Exclamação de gabolice.

Erpe - Expressão de gabóla - Venci! ê cabra erpe na lucta!"

Escórva - Exercicio. Experiencia de forças dos gallos de briga.

Escorvar - (A espingarda). Fazer explodir a escórva para enxugar o "ouvido" da arma. Exercitar-se para experimentar as forças.

Escopa - Jogo de cartas introduzido pelo italiano, no sul do Brasil.

Escorar - (um homem). Enfrentar o inimigo, fazendo-o parar.

Escóra - Pé direito. Apoio para que uma parede ou objecto não caia.

Esculpido - Muito parecido.

Espera - O mesmo que "ésse". Logar onde se espera a caça. Pau em que se engancha o cabéçalbo de carro.

Espigão - Planalto.

Espigado - Rapaz de corpo direito. Desenvolto.

Esparrela - Armadilha para passaros composta de lacinhos de cedenho sobre uma tabua.

Esquentado - Impulsivo.

Esquesito - Fóra do natural. Não commum.

Esquisitice - Sensação extranha. Excentricidade.

Ésse - Travessa no boccal do punhal ou faca, com a fornia da letra S.

Essa ua - Expressão muito uzada: "Este um" - "aquelle um", em lugar de este ou aquelle.

Estaqueô - Parou bruscamente.

Estanhados (olhos) - Fixos.

Estirão - Trecho de rio, em recta.

Estaca - Pau fincado na parede á guiza de cabide. Pau fincado na lavoura para marco de lugar em que tem de ser plantado o café ou a vinha.

Estiada - Paragem momentanea da chuva no tempo das aguas, prosseguindo logo a chuva.

Estranja - Estrangeiro.

Estaqueá - Parar bruscamente. Cahir morto.

Estrupicio - Grande quantidade. Asnice.

Esturdio - Esquisito. Fóra do commum.

Esturdinario - Extraordinario.

E-vê - Parece-me. Parecido. Similhante.

Envidado - Enganado. "Não sou eu; o sr. se envidou".

Facho - Vegetaes seccos facilmente inflammaveis, nas queimadas.

Famia - Filho ou filha.

Far-má - Não faz mal. Deixam de pronunciar o não.

Fazenda - Grande propriedade agricola.

Fazendeiro - O dono da "fazenda".

Festa do Divino - a festa em honra do Espirito Santo, que se reveste de grande brilho, na cidade de Tietê. Os caboclos têm como obrigação cumprir a promessa de seus antepassados, que desciam em numero de sessenta ou mais, nos grandes batelões, pelo rio Tietê, e subiam esmolando entre o povo ribeirinho, durante vinte e mais dias. As casas, na passagem das canôas, são enfeitadas com palmas e arbustos, sendo offerecidas lautas mesas aos canoeiros e ao povo do bairro, que afflue nessas occasiões. Onde pousa o Divino e toda a comitiva, organisam-se interessantissimas diversões, reunindo-se no sitio mais de mil pessôas.

Será esta festa uma reminiscencia da partida dos bandeirantes?

Feiticeiro - Mago. Bruxo.

Fiapico - Pequeníssima quantidade.

Fôrgo - Folego.

Forgá - Dansar o batuque ou o samba.

Fôrra - Liberta. De alforria.

Fruita - Jaboticaba. Para o caipira só a jaboticaba silvestre é fructa.

Fruiteira - Jaboticabeira.

Frande - Facão.

Fula - Mulato. Zangado.

Fuá - Assustadiço. Desconfiado.

Gadeiúda - Cabelluda. Guedelhuda. Cabellos em desordem.

Gabiróba - Especie de pitanga. Fructinha tambem chamada "Guabiroba".

Gafeira - Doença que derruba o pello dos animaes.

Garapa - Caldo de canna de assucar.

Garrar - Tomar (um caminho). Começar (a pensar).

Garraio - Novilho enfêzado e rachitico.

Garupa - A anca do animal arreado.

Gateado - Cavallo assignalado de branco e amarelíado.

Gavião - Ave de rapina. A parte volteada interna da foice.

Gaúcho - Vivedor. Parasita. Filante. O caipira paulista chama o rio-grandense do sul: sulista; paranaense: paranista; a todo o nortista, baiano; não fazendo referencias aos catharinenses, que são raros nos outros Estados.

Geringonça - Qualquer machinismo complicado.

Geribita - Pinga. Aguardente.

Giráo - Tablado alto para deposito de algodão e cereaes.

Górpe - Gole grande. Trago.

Golpeão - Idem. Serra grande, braçal.

Gróta - Valle. Furna. Despenhadeiro.

Guaiavada - Doce de goiabas. Pantomima sobre a vida em Campos, terra do assucar, cognominada "Terra da goiabada".

Guaiava - Goiaba. Fructa silvestre brasileira.

Guapé - Planta aquatica trazida do Amazonas para o Tietê pelo grande brasileiro, mais digno que qualquer outro de uma estatua, o general Couto de Magalháes, o maior dos sertanistas brasileiros, um dos primeiros a descrever nossos sertões, registando lendas e brasileirismos. "Aguapé", no tupy-guarany, quer dizer "Aguá" - redondo, "pé" -chato. Formato do vegetal de folhas chatas. A raiz do "Guapé" e igual a uma cabelleira, não vem, pois, fóra de proposito outro "etymo": "Agua" - cabellos; "pé" -chato. Chato e cabelludo.

Guarapa - Agua com assucar preto ou escuro.

Guariróva - Palmito amargo. Do tupy-guarany. "Iróba" -amargo.

Guaratan - Madeira propria para postes e cercados.

Guampa - Vazo de chifre em que o viajante toma agua.

Guampudo - Cornu do. Gran p...

Guanhacy - Vespas que fazem casas crespas de barro, tubulares.

Guainxuma - Vegetal. Aramina propria para vassouras.

Guasca - Corrêa do relho. Açoite. Camponez riograndense do sul.

Guascadas ou guascaços - Relhadas.

Guaraiuva - Madeira propria para lenha.

Içá - Tanajura. Formiga saúva no tempo da reprodução da especie. No tupy-guarany quer dizer "formiga que se come".

Ichú - Casa de vespas cassununga, marimbondos e outras.

Impalamado - Pallido. Amarellado pela doença.

Incartar - Juntar-se um cão a outro em perseguição da caça.

Incarangada - Entrevada pelo rheumatismo. Paralitica.

Indaguassú - Andaassú - Arvore grande que produz castanhas proprias para purgante de cavallo.

Inficionado - Infeliz. Infeccionado.

Ingaeiro ou ingazeiro - Arvore de beira de rio que produz o "ingá"

Ingá - Fructa, em bainha, do ingazeiro.

Inguiçá - Açular. Estimular. Influir. Insinuar.

Inferno - Sorvedouro onde cae a agua depois de mover uma roda ou monjollo.

Inorar - Criticar. Observar censurando o trajar da pessoa.

In-riba - Em cima.

Inquizila - Irrita. Dá quizilha.

Ingerizar - Irritar. De ogeriza.

Intojado - Cheio de si.

Invernada - Campo para engorda de animaes.

Iissui - (corpo) entorpecido. Perna "iissui" - perna dormente. Tupy-guarany.

Isqueiro - Tubo de metal, bambú ou taquara em que se colloca a isca, algodão queimado, para, ferindo a pedra de fogo, arranjar com que accender o cigarro.

Jacaré - Arvore de casca serriforme, similhante á "serra" do jacaré, animal.

Jacú - Ave gallinacea selvagem.

Jararaca - Variedade de cobra. Mulher velha enfurecida.

Jaguapéva - Cão chato. Do tupy-guarany - "Jaguá" - cão; "péba" - chato.

Jaguané - Typo de boi. Do tupy-guarany - yaguá - "onça", "tigre" - "né" - certo - "certo é um tigre!" Tambem quer dizer ladrido de cães.

Jaguatirica - Gato do mato. Onça pequena, do tupy-guarany.

Jatahy - Variedade de abelha silvestre. Arvore também chamada játobá.

Javevó - Meio inchado. Encafifado. Desapontado com cara de tolo.

Javevó - Farinha de milho, crespa, bijuenta e grossa.

Jiquitivá ou Jequetibá - A mais frondosa e alta das nossas arvores. O gigante da mata.

Jerivá - Palmeira fina e altissima.

Juquiá - Casinha labyrinthica para caça de aves que entram e não mais encontram a sahida. É tupy-guarany.

Juruviá - Desapontadissimo

Jurupóca - Peixe de couro. Tupy-guarany - "juruboia" -Bocca mediana.

Judiação - Mao tratamento desnecessario.

Lagarto - Reptil.

Lambedô - Adulador.

Lambancero - Arreliento. Embrulhão.

Lambuja - Vantagem. Lambugem.

Lameu - Bartholomeu.

Lambary - Pequeno peixe de escama, d'agua doce, sendo da mesma familia o "tambiú", "piquirantan", "piquira" e "guarú-guaru"'.

Lapiana - Facão. Fabricada na Lapa?

Lavano-cachorro - (sem sabão). Vadiando.

Lavage - Lavagem de fressuras de porco, no rio, afim de atrair peixes.

Lazão - (cavallo). Alazão.

Levante - Descoberta do veado pelo cão que o faz saltar e o persegue com latidos especiaes que atraem outros cães.

Ligá - Peça de couro crú com que cobrem os cargueiros.

Liquidô - Matou.

Limá - Animal cavallar ou muar.

Livé - Nivel.

Lixa - Arbusto de capoeira.

Liza - Aguardente.

Lobizóme - Duende representado por um grande cão preto comedor de estrume de gallinhas e que sae às sextas-feiras em procura de crianças, não baptisadas, que devora, tendo, porisso, fiapos de baêta vermelha dos cueiros entre os dentes.

Lombriga-assustada - Medo.

Lonca - Couro de cavallo.

Macaia - Fumo ruim.

Macho - Burro grande.

Macóta - Grande. Bom.

Mãe d'agua - Duende protector dos peixes. Persegue rapazes e lavadeiras.

Mãe de oro - Duende que occulta o ouro. Crêm ser "Mãe de Ouro", qualquer bolide.

Male-e-má - Mais ou menos. Pouquissimo. Feito por cima, sem capricho.

Malacara - Cavallo de cara branca.

Mamparra - Mangação. Preguiça. Manha.

Maman - Ama de leite. Ama secca. Applicado ás negras velhas.

Mandy - Peixe de couro, da familia do bagre.

Mandioca - Raiz feculenta, é o pão dos pobres. Tupy-guarany-"Mandiog".

Mangueira - Grande terreiro cercado para o gado.

Matungo - Cavallo forte, castrado.

Mãozinha preta - Assombramento. Era uma pequena mão que a tudo attendia com grande rapidez, inclusive varrer casa, baldear agua e dar palmadas nas crianças manhosas.

Mardade - Puz. Materia putrida das chagas.

Massapé - Terra de optima qualidade para cultura: muita liga e muito humus.

Mea - Minha.

Minhoca - Verme da terra similhante a uma pequena cobra.

Moça - Barregã - Prostituta. Amasia.

Moçar - Prostituir-se.

Mocotó - Mão de vacca.

Moda - Poesia sertaneja.

Moquetear - Dar murros com a mão fechada. Dar com a "móca", cacete.

Morrudo - Grande. Bem criado e gordo.

Mumbava - Individuo que vive parasitariamente em casa alheia.

Munheca - Pulso.

Muchirão, puchirão ou mutirão - Do tupy-guarany "Apotyrõ" -

roçada? - É a applicação do auxilio mutuo, bello exemplo de solidariedade. Os lavradores da visinhança, do bairro, determinam um dia e vão trabalhar gratuitamente para o mais necessitado, e, nesse único dia, fazem grandes roças. Algumas vezes fazem além da roçada, as capinações e colheita. Durante o trabalho é costume cantar em côro, numa toada interessante e agradavel. - o trabalho e a festa ao mesmo tempo.

Mundéo - Do tupy-guarany "Mundé" - Armadilha, com um peso para esmagar a caça que passar descuidada pelo seu carreiro ou que vai procurar o milho que a attrahe.

Namby - Sem orelha - No tupy-guarany: "Namby" quer dizer sem orelha.

Namby-uvú - Molestia que ataca as orelhas do cão.

Napéva - Gallinha chata.

Negacear - Atacar sorrateiramente.

Nervosa - Preocupação de espirito.

Negra de cusinha - (Em desuzo). Escrava estimada.

Ne (mim) - Em - "Em casa ninguem bate ne mim

Negro atôa - Preto vadio.

Nhan-pan - Bobo.

Nhapindá - Arbusto espinhento tambem chamado "arranha-gato".

Nhato - Que tem o maxilíar inferior muito saliente - Prognata.

Nhô - Senhor.

Nhô Pae - Senhor meu Pae.

Nhá - Senhora.

Nome-feio - Qualquer palavra contra a moral.

Ôta - Equivalente, entre os caipiras, da interjeição, "olá". Ao que parece, no tempo de Camões, se pronunciava como hoje o caipira. Encontra-se no grande épico o conhecido verso: "Oulá, Velloso amigo. .

Ôta! - Equivalente á exclamação "O!" (Assisti o "aluito".

(especie de lucta romana) o Bastião venceu! "Ota" cabra sarado!" O caipira tanto emprega ôta como "êta".

Paió - Depósito de milho.

Paineira - Arvore que produz a paina, fibra mais alva que o algodão.

Palmito - Parte da palmeira de onde sahem as folhas, amago, uzado como optimo alimento.

Palanque - Pau roliço fincado no meio do terreiro onde se amarram animaes chucros para curar ou encilhar.

Pala - Chale manto furado ao centro, para homem.

Pamonam - Abobarrado. Lerdo. Grosso excremento humano.

Pamonha - Bolo de extracto de milho verde. Pateta. Bobo. (azeda) Idiota.

Pampa - Cavallo com grandes manchas brancas pelo corpo.

Panca - Alavanca. (Dar -) Dar trabalho. "Venci mas deu panca".

Panquéca - Vadiação. "Dolce far niente".

Pangaré - Cavallo de cor entre alazão e zaino claro.

Papuan - Variedade de capim.

Paqueiro - Cão caçador de paca. Rufião.

Pareiada - Faca com cabo e bainha de prata.

Pareiado - Tudo que é trabalhado em prata. "Zarreio pareiado": Arreio prateado.

Parêlhas - Corrida de cavallos em raia recta para dois animaes.

Passageira - Trem diurno de passageiros. Com o estabelecimento dos nocturnos já os caipiras não dizem a passageira, mas "urno" (diurno) e "turno" (nocturno).

Passarinhar - Caçar passaros com bodoque. Com espingarda é"matar passarinho".

Passarinheiro - Cavallo de vista curta que, se assustando, foge bruscamente derrubando o cavalleiro.

Passando estreito - Vivendo com grande difficuldade.

Patrona - Bolsa de couro, a tiracollo, com chumbeiro, polvarinho, etc.

Patativa - Passaro canoro dos banhados.

Patuá - Pequeno envolucro contendo orações, reliquias e pedras sagradas que os caipiras caboclos e pretos trazem ao pescoço.

Pau-de-fumo - Pejorativo - Negro. Paula-Souza - o chumbo mais grosso que ha. Perdigoto.

Pé de moleque - Rapadura com amendoim torrado.

Pé d'ouvido - Golpe de mão aberta sobre o ouvido do adversario.

Pellega - Cedula de papel moeda.

Peceta - Cavallo mau corredor.

Pengó - Capenga apalermado.

Pereréco - Briga cheia de peripecias.

Pereréca - Sem parada. Bater de azas do passaro ferido -Do tupy-guarany pererég". Certa busina de automovel.

Perna-molle - Fracalhão. Medroso.

Piaba - Peixe d'agua doce, de escama.

Pião - Domador de cavallos.

Piché - Do tupy-guarany - (Odor a chamusco). Leite piché-queimado.

Picuman - Fuligem.

Picada - Caminho improvisado nas matas.

Pica-pau - Ave trepadora. Espingarda de um só cano de carregar pela bocca.

Picaço - (Cavallo) Pigarço.

Picaço - Carrapato estrella.

Pida - Do verbo pedir, corresponde a "peça-lhe".

Pileque - Bebedeira.

Pinho - Viola.

Pinga - Aguardente de canna.

Pinicão - Dentada do peixe na isca.

Pindacoema - Anzol de espera: isca-se á tarde ou á noite e vae-se visital-o cedo. Do tupy-guarany: "Pinda", anzol -"Coe" amanhecer.

Pinduca - Rima para Juca. Brincam as crianças provocando os José: - "Juca, pinduca; ladrão de assuca".

Pinchum - pincham - Jogam fóra. Desprezam.

Piquete - Pequeno pasto cercado.

Piquira - Cavallo pequeno e fino. Peixinho.

Piranha - Peixe de dentes aguçados e raivoso.

Piracanjuba - Peixe de escama, d'agua doce. Do tupy-guarany: "Pira", peixe - "acã", cabeça - "juba", amarella.

Piroá - Milho de pipoca não arrebentado. "Piruá", bexiga, no tupy-guarany.

Piririca - Pelle aspera e trincada devido a falta de asseio.

Piracêma - Migração de peixes.

Pirapóra - Tupy-guarany; logar onde o peixe pula.

Pitanga - Fructa do campo - "Guabirapitã", dos indios.

Pitiço - Cavallo pequeno e grosso.

Pisadêra - Pezadelo. Duende representado por uma velha esqueletica de garras aduncas que está sempre sobre o telhado prompta a poisar sobre o peito de quem dorme de costas.

Pito - Cachimbo. Descompostura.

Piuca - Pau podre.

Piuva - Pau proprio para porrete, por ser muito resistente.

Plomonia - Pneumonia.

Poáia - Individuo cacete. Planta medicinal - vomitorio.

Poiá - Fogão.

Pórte - Tamanho.

Pola - Pela - Pela certa: "pola certa".

Potro - Poldro - Cavallo novo não castrado.

Porunga ou porungo - Cabaça.

Podão - Pequena foice para corte de canna.

Porquêra - Desordem. Briga.

Poleiro - Cavallo velho e magro. Poleiro de corvo.

Poita - Pedra ou qualquer peso que sirva de ancora.

Poitar - Ancorar.

Pontear - (a viola) Tirar acordes.

Ponche - Capa de roda inteira com abertura ao centro para a cabeça.

P'ros quinto - Para os 5º dos infernos.

P'ramóde - Por amor de...

Pulmonia - Pneumonia.

Puia - Mentira.

Puçaguá - Panno com uma redesinha ao centro para pescaria de arrasto, de peixe miúdo.

Punga - Cavallo magro e velho, ruim.

Pulador - Cepos collocados de cada lado da cerca para que o homem pule o cercado e os animaes não possam passar.

Pururuca - Quebradiço. O couro torrado de leitôa é "pururuca".

Quatro-paus - Campeão. Invencivel. Valentão. Sendo o "quatro de paus" a maior carta no jogo de truco, a carta invencivel, vem dahi o dar-se o nome acima ao valentão invencivel.

Quen-quen - Formiga.

Que-nem - Similhante. Parecido. Equivalente.

Quentão - Aguardente quente com gengibre e assucar.

Querencia - Logar predileto. "E, estando em casa da namorada está na sua querencia." "Procurou o animal na baixada, junto á figueira: é a querencia delle".

Quibebe - Cosido de picadinho de abobora madura.

Quilombolá - V. Canhimbóra.

Quimjengue - Especie de tambor uzado no batuque.

Quinhentão - Quinhentos réis.

Quizano - Ha quanto tempo! - A que annos.

Quistan - Questão.

Rabacuada - Ralé - Escoria social.

Rabo de boi - Capim que estraga o pasto, verdadeira praga.

Rabo-de-tatu - Chicote com quatro tiras de couro no extremo.

Raleando - Escasseando. Tornando raro.

Rancho - Casa tosca de sapé.

Razôra - Grande destruição. De arrazar.

Redomão - Cavallo ou burro recem-domado.

Redoleiro - (Goyaz) Carrapato estrella ou picaço.

Reducino - Idem.

Refugar - Vacillar para avançar. Recuar.

Relancina - Golpe rapido. Golpe de vista.

Rêngo - Que puxa uma perna. Descadeirado.

Reiúno - Sem dono. De "res-nulius".

Resorjo - Aguas revoltas abaixo das pedras de rios correntosos.

Ressaca - Máo estar após a embriaguez alcoolica.

Resa - Funcçáo - Fandango. Festa de sitio a pretexto de orações.

Roça - Terra com culturas. Terra lavrada.

Roqueira - Especie de morteiro. Canno de espingarda montado num cepo para salvas.

Roge - Valente - Invencivel - Campeão. Vem da fama da cutelaria Joseph Rodgers & Sons, da Inglaterra e suas celebres facas e canivetes.

Sabiá - Passaro canoro.

Sacy - Duende representado por um negrinho, moleque de seus onze a doze annos, de uma perna só, sempre risonho, de olhos vermelhos, dentes salientes, topete alevantado, a arreliar quem passa, fazendo mil diabruras nas cruzes de estrada e encruzilhada, não perdoando cavalleiro que passe á noite de sexta-feira: trepa-lhe na garupa a fazer-lhe cocegas puxando o cavallo pelo rabo. À noite vae trançar a crina dos cavallos. Vêm-se realmente crinas trançadas tosca-mente. . . por morcegos.

Safada (terra) - Improductiva. Cansada.

Sahira - Passaro. Especie de sanhaço.

Sala-de-fóra - Sala de visitas.

Samba.- Dansa de caboclos. Nada tem com o jongo africano hoje dansado em todo o Brasil. O samba é dansa de caboclos, com violas, adufes e pandeiros. Ao canto e côro os dansarinos em tregeitos tiram as damas e estas aos cavalheiros, sem se tocarem, dansam e voltam aos seus lugares.

Samambaia - Vegetal da familia do feto. Praga das terras cansadas.

Sanhaço - Passaro frugivoro.

Sanhaçuira - Passaro da mesma familia do "sanhaço"; menor que este.

Sangrador - Regos nas estradas para desvio de aguas pluviaes.

Santa Luzia - Palmatoria para castigo (em desuzo).

São Gonçalo - Pessoa que faz o pedido de casamento.

Sapé - Vegetal com que se cobrem casas toscas no campo.

Sapecar - Tupy-guarany "çapec" - Chamuscar.

Sapicuá - Dois pequenos saccos ligados pelas boccas para se pendurar ao hombro.

Sapieira - Sarapilheira - Sapé e vegetaes seccos nas capoeiras de terra ruim.

Sapituca - Soluço - Impulsividade - ímpeto.

Sapo - Espectador no jogo ou divertimento.

Sapuá - Pequena área de terra cultivada.

Sapiroca - Que tem os olhos inflamados. Do tupy-guarany "çapiron", chorar.

Sara-cura - Ave pernalta ribeirinha. "Siri-cóia" no Norte.

Sarambé - Bobo - Idiota.

Sarado - Invencivel. Bom para tudo.

Saúva - Grande formiga devastadora de lavouras. A maior praga do Brasil.

Sastifa - Dar confiança. Dar explicação de um gesto. Dar satisfacção.

Secreta - Policia á paizana.

Sentenciado - Condemnado pelo jury.

Serraia - Verdura nativa nas lavouras. Optimo alimento.

Serigote - Arreio de montaria.

Serrar - (baralho) Misturar as cartas. Trançar.

Sinhá - (Em desuzo) Antiga proprietaria de escravos. Senhora.

Siá - Senhora.

Siô - Senhor.

Sô - Senhor.

Sôr - Senhor.

Sôres - Senhores.

Siriluia Formiga com azas, no tempo da procriação.

Siriri - A mesma cousa.

Sarará A mesma cousa. Ave de Mato Grosso. Conta-se que o sarará macho morre de paixão durante o choco da femea.

Siri-siri - Passaro amarello menor que o "bem-te-vi"!

Sitiante ou situante - Proprietario de pequena lavoura.

Sitio - Pequena lavoura.

Sirrino - Rindo com força.

Socado - Arreio parecido com o lombilho.

Sondá - Linha longa de pesca com chumbada para pesca em "poço", isto é, o lugar mais profundo do rio.

Sopé - Dourado pequeno.

Sucia - Festa no sitio - Córja - Sociedade commercial.

Sucre - Assucar.

Sunga-munga - Idiota meio paralitico.

Sufragante - Em flagrante.

Suguirá - Peixe da familia dos papa-terra.

Supricante - Individuo. Pessoa. Victima.

Surucuá - Ave da mata virgem.

Sururuca - Peneira grossa.

Suta - (Goyaz) Surpreza por um grupo de familias amigas chegando inesperadamente, á noite, á casa do fazendeiro, formando uma festa.

T

Tabôa - Junco proprio para esteiras. "Piri", dos indios.

Tacáro - (o pau). Deram bordoadas. Puzeram (na cadeia).

Tacar ou tocar - Atacar. Pôr em acção: "Tacar fogo".

Tacurú - Pedras para supporte de panellas e caldeirões, em cosinha improvisada. Vem do tupy-guarany "Ytácurú".

Tala - Chicote.

Tambiu - Variedade de lambary.

Tambú - Tambor oblongo para o batuque. O mesmo que "tambaque".

Tan-tan - Bobo. Em tupy-guarany: "Tapaná".

Taquara - Canna ôca, silvestre, mais delicada que o "bambú". Do tupy-guarany: "Taqua" canna ôca. "Taquaratin" ou "Taquaritinga" taquara massiça.

Tapéra - Casa velha abandonada. Do tupy-guarany: "Taba", casa povoada, "puêra", que foi. "Tapé", "tabapuêra" que foi moradia.

Taperá - Variedade de andorinha. Faz ninho em buracos nos barrancos e taperas.

Taperá-guassú - Andorinha grande. Chabó.

Tapiara - Estradeiro. Aguia. Velhaco. Ligeiro de mão.

Tapururuca - Pissarra. Terra em estado quasi de pedras quebradiças.

Tarecos - Objectos velhos. Miudezas estragadas.

Tassuira - Formiguinha cujas ferroadas são ardidas e dolorosas. Do tupy-guarany "Tacin".

Tarasca - Mulher assanhada, irrequieta, dada a engraçada.

Telha-vã - Telhado simples, sem embôço.

Tenda - Parte do engenho de canna onde ficam os tachos para o assucar.

Tento - Fita de couro com que se fazem obras trançadas.

Ter de seu - Possuir para viver sem grandes apertos.

Terereca - (Pião) Que tem a ponta rombuda e gira saltitando.

Tiguéra - Roça de milho depois de colhida. Talvez venha do tupy-guarany: "Abati" milho - "coéra" ossos; pois as cannas do milho dão impressão de ossos. Ossos do milharal.

Tirá-cipó - Fugir pela mata com o pretexto de tirar cipó em época de guerra.

Tira-prosa - Afamado. Valentão.

Tiririca - Capim damninho que ataca as lavouras.

Tóca - Covil. Buraco em que se escondem as caças. A mesma cousa que "Lóca".

Toeira - Corda de viola.

Tolete - (de fumo ou de pau) Pedaço roliço, curto e grosso.

Tovaca - Ave da mata virgem.

Trabuco - Espingarda de um canno, de carregar pela bocca,-grosso calibre, para salvas.

Trama - Barganha. Negocio.

Tranqueira - Coivaras velhas em meio da capoeira, impedindo o transito pela mata.

Traira ou taraira - Peixe pequeno, de escama, de tanques e ribeirões, feroz, de dentes aguçados.

Trapeira - Grande desordem.

Trem - Qualquer objecto. Individuo inutil.

Trenhera - Quantidade de objectos diversos misturados.

Trelente - Que mexe com alguem que passa. Intrometido.

Treze-de-maio - Pejorativo applicado aos pretos por serem libertos naquella data.

Tropicão - (cavallo) Que tropeça ou dá topadas sobre objectos resistentes.

Trocer - Torcer.

Tripeça - Assento tosco composto de duas tabuas inclinadas para dentro e duas peças lateraes.

Truco - Jogo de cartas em que tomam parte quatro parceiros:a maior carta, o "zape" é o "Quatro-páus"; jogado a dois recebe o nome de truco-de-mano.

Tú - Modo de tratar com grande desprezo. É um insulto, tanto que as crianças ao serem chamadas por "tú" respondem: "tú turú tutú, parente do teu.

Tucura - (Goyaz) - Gado selvagem que não toma sal.

Tuncun - Palmeira que produz uma fibra de grande resistencia.

Turuna - Invencivel.

Turtuviar - Atordoar-se. Vacillar. Titubear.

Tusta - Tostão - Cem réis.

Tuvira - Peixe. Enguia de tanques e ribeirões.

Ue'i-me! - Expressão uzual que corresponde á exclamativa "O homem!"

Urú - Ave gallinacea.

Urucungo - Instrumento (em desuzo) composto de um arco, uma corda e uma cabaça, fazendo o executante vibrar a corda á bocca da cabaça, graduando o som com sua própria bocca junto ao orificio da cabaça. É instrumento introduzido pelos escravos africanos.

Urucurana - Arbusto.

Urupé - Fungo.

Urutáu - Ave nocturna cujo canto imita o gemer humano em prolongados e altos "aai. . . aai. . . ai. . ." Brincam as crianças ao escurecer, dialogando com a ave. "Urutau, urutau. . . seu pae morreu. (silencio) Urutau, urutau. seu irmão morreu! (silencio) Urutau, urutau. . . sua avó morreu! áái. . . áái . . ái. . . coincide gritar gemente a ave, com grande sucesso para as crianças. Com o desaparecimento das matas vae o urutau desapparecendo.

Urucubaca - Azar. Infelicidade. Febre eruptiva.

Vevuia - Figado ou pulmão.

Virado - Farnel. Matula.

Virador - Ponto do rio de onde voltam os canoeiros.

Vira - Passaro preto - Similhante a graúna - Vira-bosta.

Vasqueiro - Raro.

Virar bicho - Zangar-se.

Vazio - Ilharga.

Vinrá? - (com o r brando) Virá; do verbo vir.

Veadeiro - Cão caçador de veado.

Váo - Ponto do rio que dá passagem sem ser preciso nadar.

Vendido - Enganado. "Não é por ahi o caminho, vancê tá vendido". De "invidado".

Você, vancê, vacê, voncê, acê, ocê, cê - Quer dizer vossa-mercê.

Yaçanan - Ave do brejo.

Este glossário foi extraído de livro de autoria de Cornélio Pires
(Musa Caipira e As Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho), editado pela Prefeitura de Tietê,
em 1985, em comemoração ao Centenário de nascimento do autor.




CORNÉLIO PIRES

UM MARCO NA CULTURA SERTANEJA




Cornélio Pires, nascido em Tietê, São Paulo, em 1884, foi escritor, compositor, conferencista, jornalista, contador de causos, folclorista e poeta.

Porém, a importância maior deste tieteense, foi a dedicação de uma vida inteira à compilação e à divulgação da cultura sertaneja, através de livros, discos, filmes, conferências, artigos de jornais e composições musicais. Já existia evidentemente esta cultura, mas foi ele que, com o seu inestimável trabalho possibilitou que a música caipira fosse divulgada, inicialmente em discos, com selo próprio, e depois através das rádios AM de São Paulo. A nossa dupla Tonico e Tinoco deve muito a ele a abertura deste caminho e que depois também foi trilhado por inúmeras duplas e trios sertanejos de tão boa qualidade.

Museu de Tietê. Cornélio Pires tem lugar de honra no Museu Histórico e Folclórico de Tietê.

Biografia de Cornélio Pires. Nascimento, vida e morte deste homem que dedicou-se a contar como é o nosso caboclo.

Bibliografia. Livros publicados de 1910 até 1945, com poemas, causos, piadas e música.

Discografia e Filmografia. Todos os discos lançados pela gravadora Colúmbia e mais os filmes produzidos por ele.

Fotos, poesia e fatos pitorescos. Os famosos "causos" de C. Pires. Causos em prosa, em versos e até na voz do próprio...

Glossário Sertanejo. Termos usados pelo nosso sertanejo, numa obra ímpar de Cornélio.


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Cornélio Pires

Cornélio Pires nasceu na cidade de Tietê, Estado de São Paulo, no dia 13 de julho de 1884, e a sua desencarnação aconteceu na cidade de S. Paulo, no dia 17 de fevereiro de 1958.

Homem de personalidade inconfundível, tornou-se figura popular e de bastante destaque em todo o Brasil, graças ao trabalho, por ele encetado, de viajar pelas cidades do Interior do Estado de S. Paulo e outros Estados, estreando na condição de caipira humorista.

Em sua juventude aspirava participar de um concurso de admissão numa Faculdade de Farmácia. Animado desse propósito viajou de Tietê para S. Paulo, a fim de se inscrever como candidato a um desses concursos, porém, apesar do seu desempenho não logrou êxito nesse seu intento.

Tomou então a deliberação de dedicar-se ao jornalismo, passando a trabalhar na redação do jornal O Comércio de São Paulo, em cujo cargo desenvolveu um aprendizado bastante estafante. Posteriormente passou a exercer atividades nos jornais O São Paulo e O Estado de São Paulo, tradicional órgão da imprensa paulista, onde desempenhou a função de revisor e, finalmente, no ano de 1914, passou a dar a sua contribuição ao órgão O Pirralho.

Numerosos escritores teceram comentários sobre a personalidade de Cornélio Pires e, para ilustração, passemos a citar Joffre Martins Veiga, que em seu trabalho A Vida Pitoresca de Cornélio Pires, escreveu " Ninguém amou tanto a sua gente como Cornélio Pires; ninguém se preocupou tanto com seus semelhantes como esse homem, que foi, antes de tudo, um Bom". O famosos poeta Martins Fontes, por sua vez, escrevendo sobre ele, afirmou: "é um bandeirante puro, um artista incansável, enobrecedor da Pátria e enriquecedor da língua".

Admirado também pelo grande jornalista Amadeu Amaral, este deu-lhe a sugestão de tornasse um dos maiores divulgadores do folclore brasileiro.

Pelos idos de 1910, Cornélio Pires lançou o livro Musa Caipira, obra que foi largamente saudada pela crítica, graças ao seu conteúdo tipicamente brasileiro. Sílvio Romero tornou-se um dos seus mais salientes críticos, comentando da seguinte forma o lançamento dessa obra: " Apreciei imensamente o chiste, a cor local, a graça, a espontaneidade de suas produções que, além do seu valor intrínseco, são um ótimo documento para o estudo dos brasileirismos da nossa linguagem".

No início do presente século, Cornélio Pires começou a freqüentar a Igreja Presbiteriana, entretanto não conseguiu conciliar os ensinamentos dessa religião com o seu modo de pensar. Ele não admitia a existência das penas eternas e de um Deus que desse preferência aos seguidores de determinadas religiões. O demasiado apego aos formalismos da letra, na interpretação dos textos evangélicos fez com que ele quase descambasse para o materialismo.

Nessa época ele desconhecia o que era Espiritismo, entretanto, durante as suas viagens ao Interior, aconteceram com ele vários fenômenos mediúnicos, inclusive algumas comunicações do Espírito Emilio de Menezes, as quais muito o impressionaram. Como conseqüência ele passou a estudar obras espíritas principalmente as de Allan Kardec, Leon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Dali por diante integrou-se decididamente no Espiritismo, interessando-se muito pelos fenômenos de efeitos físicos. Nos anos de 1944 a 1947 ele escreveu os livros Coisas do Outro Mundo e Onde estás, ó morte?, tendo desencarnado quando escrevia Coletânea Espírita.

De sua vasta bibliografia destacamos: Musa Caipira, Versos Velhos, Cenas e Paisagens de minha Terra, Monturo, Quem conta um conto, Conversas ao Pé do Fogo, Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho - O Queima Campo, Tragédia Cabocla, Patacoadas, Seleta Caipira, Almanaque do Saci, Mixórdias, Meu Samburá, Sambas e Cateretês, Tarrafas, Chorando e Rindo, De Roupa Nova, Só Rindo, Ta no Bocó, Quem conta um Conto e outros Contos..., Enciclopédia de anedotas e Curiosidades, além dos dois livros espíritas acima citados.

Num de dos seus escritos sobre o Espiritismo, dizia ele: " O Espiritismo, mais cedo ou mais tarde, fará aos católicos romanos, aos protestantes e aos adeptos de outros credos, a caridade de robustecer-lhes a Fé, com os fatos que provam a imortalidade da Alma, que se transforma em Espírito ao deixar o invólucro material" e mais adiante " O Espiritismo nos proporciona a FÉ RACIOCINADA, nos arrebata ao jugo do dogma e nos ensina a compreender DEUS como Ele é".

Pouco antes da sua desencarnação, Cornélio Pires, demonstrando que havia assimilado o preceito de Jesus Cristo: " Amai ao próximo como a ti mesmo", voltou para a cidade do Tietê e ali comprou uma chácara, onde fundou a " Granja de Jesus", lar destinado a crianças desamparadas. Infelizmente ele não chegou a ver a conclusão da obra.

Cornélio Pires chegou a organizar o " Teatro Ambulante Cornélio Pires" perambulando de cidade em cidade, sendo aplaudido por toda a população brasileira por onde passava. Esse intento foi concretizado após ter abandonado a carreira jornalística.

O presente trabalho representa uma apagada biografia desse batalhador infatigável, que desenvolveu na Terra uma tarefa altamente meritória.


Alguns livros

AS ESTRAMBÓTICAS AVENTURAS DE JOAQUIM BENTINHO - O QUEIMA CAMPO
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Este volume talvez seja o que melhor traduz o objetivo maior do autor: mostrar um caipira vivo, criativo e, sem dúvida, exagerado. Originalmente, este livro foi escrito e editado em duas etapas, separadas por alguns anos. Nesta edição as duas partes estão reunidas, facilitando ao leitor observar e analisar as alterações havidas no ambiente caipira com a chegada dos imigrantes italianos.

Número de Páginas: 148
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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CHORANDO E RINDO
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Lançado por Cornélio Pires em 1933, é composto por contos, "causos", estórias e piadas sobre a guerra dos paulistas - a Revolução Constitucionalista de 1932. Vale como um livro de história, escrito de maneira amena, sobre esse episódio marcante da História Paulista.

Número de Páginas: 164
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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CONVERSAS AO PÉ-DO-FOGO
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: É Cornélio Pires que fala: aqui vamos ler "causos", mentiras e pilhérias, por mim escutados, na "Fazenda-velha", ao Pé-do-fogo. Vale a pena.

Número de Páginas: 124
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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MEU SAMBURÁ
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: O autor pesquisava tanto o mundo caipira naquela primeira metade do século XX que precisa escrever um livro após outro para registrar e documentar o que encontrava.
Este volume é um exemplo desse proceder. Traz uma série de causos e contos ilariantes, sobre a vida e o proceder do caipira paulista.

Número de Páginas: 154
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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MIXÓRDIA
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Neste livro, o 11º da coleção "Conversa Caipira" o autor apresenta um conjunto de contos e anedotas do repertório caipira do interior paulista. Traz também uma série de poesias dos chamados Poetas Rústicos de nosso interior.
Esta obra é mais uma do valioso resgate cultural feito pelo grande escritor caipira.

Número de Páginas: 174
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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PATACOADAS
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Neste livro Cornélio Pires reuniu uma coleção de piadas colhidas, no território paulista costumeiramente chamado de reduto caipira. Permite saborear a leveza e a beleza do humor caipira.

Número de Páginas: 162
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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QUEM CONTA UM CONTO...
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Neste volume o escritor caipira reuniu os contos ouvidos em suas andanças pelo interior. Possuidor de uma invejável capacidade de enfeitar o que já é belo, tornou este livro um clássico de contos cablocos.

Número de Páginas: 132
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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SAMBAS E CATERETÊS
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Neste livro Cornélio Pires registra o resultado de suas pesquisas no meio caipira, sobre a nossa música de raiz. Após longas e exaustivas viagens ao interior paulista, trouxe a registro as inúmeras músicas que conheceu, vendo as duplas mais antigas cantarem. Reuniu todas as letras neste livro, "Sambas e Cateretês", que se tornou o primeiro e mais importante registro no nosso folclore.

Número de Páginas: 232
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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SELETA CAIPIRA
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Mais um livro da coleção do caipira maior: Cornélio Pires. Trata-se de mais uma coletânea pesquisada no interior paulista e adaptada pelo autor, trazendo contos hilariantes e poesias alegres, tristes e divertidas da alma caipira do paulista.

Número de Páginas: 110
Formato: 21,5 x 15,5 cm
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SÓ RINDO
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Mais um livro da coleção "Conversa Caipira", até certo ponto dedicado às crianças, para que conheçam e sintam como viviam as crianças do interior paulista no início do século XX. Retrata a maravilha das tardes quentes das cidades caipiras, quando sentadas nas guias das calçadas ouviam as anedotas e causos da vida cabocla. E riam gostosamente. Leitura destinada a matar saudade.

Número de Páginas: 156
Formato: 21,5 cm x 15,5 cm
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TARRAFADAS
Autor:
Cornélio Pires

Descrição: Mais um livro de contos pitorescos e cômicos desse escritor único da literatura caipira do Estado de São Paulo.
E é ele quem diz: "'Tarrafeando' colherei o que cair na rede, mas, desta vez, só levarei ao mercado os peixes sem espinhos venenosos...".
Tão boa leitura quanto as demais de Cornélio Pires.

Número de Páginas: 106
Formato: 21,5 x 15,5
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