Origem da plavra Caipira

Baseado na Grande Reportagem “Os Rumos da Música Caipira no Vale do Paraíba”, de Anderson Borba Ciola e Fábio Cecílio Alba, a origem da palavra caipira ainda é motivo de controvérsias. Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luiz Câmara Cascudo, a palavra significa “homem ou mulher que não mora em povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público. Habitante do interior, tímido e desajeitado...”. Robert W. Shirley, em seu livro “O fim de uma tradição”, critica a posição de Câmara Cascudo, dizendo que: “Esta definição em si mesma, revela a extensão da grande lacuna social entre os escritores urbanos e os camponeses, pois, de fato, o caipira tem uma cultura distintiva e elaborada, rica em seus próprios valores, organizações e tradições”. Já no Dicionário Aurélio é encontrada a seguinte definição: “Habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução e de convívio e modos rústicos”. Cornélio Pires, jornalista e violeiro, em seu livro “Conversas ao pé do fogo” define a palavra caipira da seguinte forma: “Por mais que rebusque o étimo de caipira, nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos o tupi-guarani capiâbiguâara. Caipirismo é acanhamento, gesto de ocultar o rosto, neste caso temos a raiz ‘caí’, que quer dizer gesto de macaco ocultando o rosto. Capipiara, que quer dizer o que é do mato. Capiã, de dentro do mato, faz lembrar o capiau mineiro. Caapiára quer dizer lavrador e o caipira é sempre lavrador. Creio ser este último o mais aceitável, pois caipira quer dizer roceiro, isto é, lavrador...”.

21.2.11

continuação

SINHARA, SINHÁ, formas enclíticas e pronominais de Senhora. V. SINHÔR.
SINHÀRINHA, dimin. de SINHARA.
SINHÁZINHA, dimin. de SINHÁ.
SINHÔR, SINHÔ, SIÔR, SIÔ, formas enclíticas de senhor. | Senhor, como senhora, como
minha e outros vocs. de uso constante, sofreu grandes alterações e se cindiu cm formas
proclíticas e enclíticas, determinadas simultaneamente pelas diferentes posições e pelos vários
empregos gramaticais. Seu usa-se anteposto imediatamente a nomes de pessoa: seu Juaquim,
seu padre, seu mestre. Sinhôr, sinho e siôr são formas enclíticas e pronominais, mas diferem no
uso. As primeiras podem seguir-se outras palavras: "Já vô, sim, sinhôr" - "Quero falá c'o sinhô" -
"O sinhô bem viu que eu tinha rezão". A terceira, em regra, só se emprega em fórmulas
"fechadas", sem seguimento: "Sim, siôr!" Siô usa-se em próclise, como seu, e também
encliticamente, como sinhô e siôr. Todas estas distinções, é inútil dizer, foram estabelecidas, a
pouco e pouco, pelo uso, por meio de constantes ações e reações das tendências fisiológicas
sobre o senso gramatical, e vice-versa. - Adendo: sinhô, à parte o que ficou indicado, aparece
em próclise nas fórmulas sinhô-moço e sinhô-véio. É caso isolado, devido já a outro gênero de
influência. Essas fórmulas, tais como se acham grafadas, se devem aos antigos escravos
negros (cuja fonética especial, como já assinalamos em outro lugar, diferia, em mais de um
ponto, da fonética popular dominante, ou caipira) e foram adotadas geralmente para designar os
senhores em relação aos seus cativos: "Vá dizê pra seu sinhô-moço que eu espero êle". É claro
que o emprego de tal expressão é hoje raro, e mais raro se torna a medida que se afasta no
passado a época da escravidão.
SINHÔZINHO, dimin. de SINHÔ.
SI(G)NIFICÁ(R), v. t. - J. J. Nunes ("Crestomat.", gloss.) regista seneficar. Exemplo de Dom J.
de Castro: "... e em cima huma grande bola que deve senificar o mundo". (Descrição do edif. d0
pagode, em M. de S. Pinto, p. 29). - Cp. manifica, malino, morar, formas arcaicas ainda
populares em S. P.
SITIANTE, SITIÊRO, s. m. - proprietário de SÍTIO.
SÍTIO, s. m. - propriedade rural menor que a fazenda; o campo, a roça, por oposição à cidade:
"Gósto mais do sítio do que da praça".
SOBERBIA, s. f. - soberbice.
SÔBRE-CINCHA, s. f. - peça conexa à cincha.
SÔBRE-LÁTICO, s. m. - a parte que se opõe ao LÁTICO, na barrigueira. | B. , R. regista "látego"
e sobre-látego
SÓCA, s. f. - a segunda produção de certas plantas, que, como a cana de açúcar, crescem de
novo, depois de se terem cortado uma vez. Diz-se de uma planta que ela "dá boa sóca", ou "não
dá sóca", conforme permite ou não mais de uma colheita regular. | E t. mais ou menos geral, no
Br. - V. SOQUERA.
SOCADO, s. m. - lombilho de cabeça alta.
SÒCÓ, s. m. - ave pernalta ("Ardea brasiliensis")
Os pios dos nambús e das batuíras e os socós na lagôa. (C. P.).
SOFRAGANTE, s. m. - usado na loc. adv. "no sofragante", isto é, no mesmo momento,
imediatamente: "A Ogusta saltou no chão, saiu correndo inté na porta da rua, mas porêm voltou
no mesmo sofragante, caiu nos pés da cama do filho..." (V. S.) | Usado na Beira com a mesma
acepção ("Novo Dic."). Paiva regista "sofregante". - De sob flagrante?
SOJEITÁ(R), sujeitar, v. t. | É mais comum assojeitá(r).
SOJEITA, s. f. - mulher, em sentido depreciativo.
SOJEITO, s. m. - homem, em sentido depreciativo; às vezes aparentemente depreciativo, mas
de fato admirativo ou carinhoso:
Lá na festa do nho Zinho,
no bairro do Riu Cumprido,
pareceu um sojeitinho
que é cabocro destrocido.
(C. P.)
A forma é arc.: "...sojeito por tantas, & tam sobejas razões corrome dizervolo". ("Eufros.", I.)
-"Sojeita ao cruel jugo" ("Castro", I). "Sojeito a brandos rogos" ("Castro", I).
SOJIGÁ(R), SUJIGÁ(R), subjugar, v. t. | Formas arcaicas, ainda populares em quase todo o Br.
C. Ramos colheu-a em Goiás: "... quando supunha já ser ocasião de sujigá-lo nas esporas e
tacadas de rabo de tatú aplicadas a preceito..." - Da "Eufros.": "Mas que farey triste, pois amor
me sogiga..." (I, scena I.) Da "Crori. do Cond.": "...a terra seria de todo perdida e sugiguada a
elrey de Castella" (XX). Paiva registou o t. entre os condenáveis.
SOMANA, semana, s. f. | É pop. em todo o Br., ou quase todo. Colheu-o Cat. no Nordeste:
Cheguei há cinco "sumana"
nesta grande capitá -.
É também arc.:
A novilha vou buscar:
Viste-ma tu ca andar?
- Não na vi esta somana.
(Gil V., "Tragicom. da Serra da Estr.")
Seria muita costura
Para toda esta somana -
(Joham Gomes de Abreu. Canc. de Rez.).
"En termho de Santarem há terra tam frutiffera que do dia que semeam o pam ataa sete
somanas o segam". ("Estoria geral", descr. de Santarem - séc. XIV-XV).
SONDÁ, s. f. - linha grossa e longa para se pescar com anzol. | De sondar, por "linha de
sondar".
SOPAPEÁ(R), v. t. - dar sopapos em (alguém).
SÓ POR SÓ, loc. adv. - a sós, só por si, só consigo. | É clássica: "Maldito o homem, que confia
em homem; e bendito o homem, que confia neste Homem; e só neste Homem, e muito só por
só com este Homem trata do que lhe convém. (Vieira, Sermão do sab. 4.º da Quar., VII). - Esta
foi a maior ventura daquella alma e esta a melhor hora daquelle dia: aquelle breve tempo, em
que só por só com Christo". (Idem, ibid.).
SOQUÊ(I)RA, s. f. -. planta cortada (notadamente a cana de açúcar) de que se deixa na terra
uma parte do caule, para que torne a crescer e dê nova colheita. | Teria provindo, seg. alguns,
do tupi "araçoc".
SORORÓCA, s. f. - voc. onomatopaico com que se designa o rumor produzido ordinariamente
pela respiração dos moribundos. | Tupi.
SORTÊRA, q. - não padreada (vaca ou égua).
SOVERTÊ(R), SUVERTÊ(R), subverter, v. t. e i. - desaparecer como por encanto; sumir de
repente; sumir-se: "...vacê que é tão estudado, me diga por que foi que me apareceu a tal moça,
e me levou p'r aquêle rumo, e suverteu de repente". (V. S.)
...assi soverteu
Por manha a grande alteza
Do sprito....
("Castro", 1)
...Ó montes de Coimbra,
Como não sovertestes tal ministro?
("Castro", V)
SOVÉU, s. m. - corda de couro torcido, de duas pernas. | Há na língua soveu, soveio, soveiro,
significando correia grossa.
SÚCIA, s. f. - festa familiar, pagode. | "Quem dava uma sucia em sua casa, e queria ter grande
roda e boa companhia, bastava sòmente anunciar aos convidados que o Teotónio... se acharia
presente". (M. A. de Almeida). O exemplo mostra que o significado é relativamente velho, e
existiu fora de S. P.
SUCUPÍRA, s. f. - árvore da fam. das Leguminosas, de que há duas espécies, a mirim e a açu,
isto é, pequena e grande. | Tupi.
SUCURI, s. f. - ofídio do gên. "Boa". | Existem pelo pais muitas variantes deste nome: "sucuriú,
sucurujú, sucuriúba, sucurijuba", etc. - Tupi.
SUFICIENTE, q. - apto, capaz: "Eu logo vi que o tar não era suficiente pra fazê o que vancê
queria, mais cumo vancê tinha cunfiança nêle..." | "E porque erão muitos, e trazião muita gente,
pareceu-me cousa mui importante mandar lá uma pessoa sufficiente, e de muito sizo,
experiencia, e saber..." (Carta de Dom J. de Castro ao rei, escrita na Índia). - Também se usa,
com sentido idêntico ao dos antigos escritores, e cremos que de acordo ainda com o uso atual
em Port., suficiência = capacidade, aptidão, - como neste passo do mesmo documento acima
citado: "...forcei-o a isso, assim porque para o caso cumpria pessoa de suas qualidades, como
por ser aleijado duma perna por serviço de v. a., e por este impedimento não ter suficiência
para saltar paredes..."
SUINAN, s. f. - leguminosa, cuja madeira se emprega no fabrico de gamelas.
SUINDÁRA, s. f. - espécie de coruja. | Tupi.
SULIMÃO, s. m. - sublimado corrosivo. | Usa-se dependurar num saquinho, ao pescoço dos
cães de caça, para afugentar as cobras. Também se aplica à gente. Em Port. existe superstição
semelhante. - A forma resultou de certo da queda de b em sublimado (sublimado), com
alteração do final por influência de Suliman, Salomão. Quanto à queda de b, teria sido por
efeito de analogia com o prefixo so, su, de sub. Cp. soverter, sojeitar, etc.
SUNGÁ(R), v. t. - puxar, suspender: "A moça sungô o vistido pra riba, e correu". | Segundo
Capêlo e Ivens, citados por B. - R., do bundo "cusunga", puxar.
SUPETÃO, s. m. usado na loc. adv. de supetão, isto é, de repente, de brusco. | É expressão
usual em todas as camadas sociais, no Br., mas os que presumem bem conhecer a língua
pronunciam e escrevem "sopetão" (com o). - É corrente no castelhano da Argentina:
Habia sido fierazo
Hailarse de sopeton
Em medio a una poblacion
Ansina, deste tamaño.
(Granada).
- Liga-se a súbito e a de súbito. Veja se SÚPITO.
SUPIMPA, q. - excelente, superior, delicioso: "Uma festa supimpa".
SÚPITO, súbito, s. m. - repente assomo: "O véio tem cada súpito, que fica que nem lôco". | A
forma registada, com troca de b por p, é arcaica, e ainda pop. em Port. Encontra-se em Diogo
do Couto, "Dec.": "Ruy Gonçalves ficou triste de ver esta tão supita mudança. Em Gil V., achase
supita, supitamente, supitania (subitânia). Freire cita a loc. adv. de supito, de Brito, "Mon.
Lusit.", e o adv. supitamente, de M. Tomás, "Insulana". - Como subst., só nos ocorre um
exemplo de Chagas, "Obras espirituais", citado pelo mesmo Freire. Apesar disso, é de crer que
a substantivação, aqui registada, provenha de longe, no tempo e no espaço. Em Minas, L.
Gomes colheu a expressão "num súbito" (com b), da qual se depreende que também lá se
observa o fenômeno. Cp. supetão.
SUPITOSO, q. - diz-se do indivíduo sujeito a repentinos acessos (súpitos) de ira, atreito a tomar
deliberações inopinadas e enérgicas. | Com este sentido, encontra-se súpito no livro "Afonso de
Albuquerque", de Ant. Baiâo, pág. 39, em cita de documento antigo: "... dizendo ser Albuquerque
homem mui aspero de condição e muito supito (impulsivo).
SURJÃO, cirurgião, s. m. | Esse encurtamento do voc. explica-se pela forma antiga "sururgião",
que se encontra em Camões:
Não tinhamos ali medico astuto,
Sururgião sutil menos se achava - ("Lus.". V, 82).
SURTUM, s. m. - espécie de jaleco de baeta, muito usado antigamente: "... se um par de olhos
creoulos não o fizessem trocar a negrura do saioto pelo estridente escarlate de um surtum
profano..." (M. L). | Do Port. sertum. Cp. assertoar.
SURUCUÁ, s. m. - designa varias aves do gên. "Trogon":
Já cantam surucuós, já trinam gaturamos - (C. P.)
| Tupi.
SURUIÁ, s. m. - pequena rede de lanço, fixa em duas hastes de pau dispostas em ângulo.
SURURUCA, s. f. - peneira grossa. | Seg. B. - R., do verbo tupi "sururu", vasar, derramar.
SURURUCÁ(R), v. i. - fazer movimentos peneirados com o corpo.
SUSTÂNCIA, s. f. - vigor corporal. | É pronúncia castiça.
TABARANA, s. f. - certo peixe de rio.
TABATINGA, s. f. - terra branca azulada, que se emprega no fabrico de louça rústica e de
pelotas de bodoque. - Do tupi "itab + atinga", mineral branco (T. S.), ou "tobatinga", barro branco
(B. - R.).
TABÔA, s. f. - certa planta aquática de que se fazem esteiras.
TÁBUA, s. f. - na frase "tomar tábua", ou "levar tábua", não ser aceito em proposta de
casamento. | É variante de frase port. Em outras regiões do Br. se diz "levar tabóca" para
exprimir logro, desapontamento, e "taboquear" por lograr, desiludir, verbo esse que B. - R. com
razão aproxima do antigo port. atabucar.
TACUARA, s. f. - designa várias espécies de gramínea, do mesmo gên. do "bambu", nome que
se reserva para as espécies importadas e de grande diâmetro. Há tacuàruçu, tacuaratinga,
tacuara do Reino, tacuari, tacuara-póca, etc. - Tupi.
TACUARÁ(L), s. m. - mato onde há muita taquara.
TAÇUIRA, s. f. - certa casta de formigas. | Tupi.
TACURÚ, s. m. - fogão improvisado, com três pedras ou tijolos. Do tupi "itacurub", pedra
quebrada?
TACURUVA, s. f. - o mesmo que TACURÚ.
TAGUÁ, TAUÁ, s. m. - terra amarela azulada, com que se dá cor à louça de barro fabricada na
roça. | Tupi "taguá", amarelo.
TAIÓVA, s. f. - planta aquática de grandes e largas folhas. | Será a mesma "Colocasta
esculenta" registada por B. - R.?
TAIÚVA, s. f. - árvore da fam. das Moráceas, que dá madeira para marcenaria, esteios, vigas,
etc. | Tupi.
TALA, s. f. - tira de couro, geralmente empregada em relhos. | O vocáb. é port., mas sem essa
especialização de matéria.
TALENTO, s. m. - força, destreza: "Isto é um cavalo de talento". | Também usado em Pernamb.
Parece mais ou menos geral, no Br.
TAMANDUÁ, s. m. - mamífero desdentado, do gên. "Myrmecophaga".
- BANDÊRA, espécie de grande tamanho, que se distingue também por uma enorme cauda de
longos pelos.
TAMBAQUE, s. m. - tambor feito de um tronco, no qual se bate com as mãos. Alter. de tabaque,
atabaque.
TAMBIÚ, s. m. - certo peixe de rio. | Tupi.
TAMBURI, e. ni. - leguminosa de grande altura e frondosa. Escreve-se às vezes "tamboril".
Haverá relação entre uma coisa e outra, ou trata-se de simples traição do ouvido?
TAMBÚ, tambor, s. m. - instrumento músico que consiste numa seção de um tronco de árvore,
cavada profundamente no sentido longitudinal, e em cuja boca se colocou um couro bem
esticado, sobre o qual se bate com ambas as mãos: objeto usado em festas e danças das
populações rurais. | Alter. de tambor com influência de guatambú?
TANTAN, q. - tolo, palerma.
TAPERA, s. f. - casa abandonada, em lugar ermo. | Tupi.
TAPERÁ, e. m. - espécie de andorinha. | Tupi.
TAPERÁ-GUAÇÚ, s. m. - o mesmo que chabó. | Tupi.
TAPINHOÁ, e. m. - árvore da fam. das Lauráceas.
TARAÍRA, TARIRA, TRAÍRA, s. f. - certo peixe conhecido.
TARUMÁ, s. m. - vegetal da fam. das Verbenáceas.
TATORANA, s. f. - lagarta cujo contato produz irritação na pele, com forte ardor. | Mont. dá
"tataurã", que define - "gusano colorado". - O ditongo au explicará a pronúncia pop. com o, mais
vulgar, mais genuinamente caipira do que taturana, como se ouve às vezes, como escreveu
Bernardo Guimarães (poesias) e como registou B. - R.
TATÚ, s. m. - designa várias espécies de desdentados, do gên. "Dasypus". | Tupi.
TÉIPA, taipa, s. f. - parede de terra batida. | Cp. réiva.
TEMPO-QUENTE, s. m. - distúrbio, discussão acalorada.
TEMPO-SERÁ, s. m. - brinco infantil.
TENDA, s. f. - oficina de ferreiro.
TENTOS, s. m. - tiras de couro; particularmente, as tiras de que estão providos os lombilhos dos
campeiros, as quais se amarra o laço enrolado, ou qualquer outro objeto:
Laço nos lentos, a chilena ao pé - (C. P.)
| É t. sul-americano. Usou-o Manuel Bernardes, nos seus "Cuadros del campo" (Uruguai): "...el
lazo trenzado, de cuatro tientos, en la mano".
TER1, v. usado impessoalmente, em lugar de "haver": "tem dia que não posso trabaiá" - "tem
gente que pensa ansim" - "nêste mundo tem cada coisa, que inté assusta". (V. "Sintaxe")
TER2, v. t. - dar à luz: "Ela teve o Juca antes do Tonico".
TERERÉCA, q. - diz-se do indivíduo buliçoso, versátil, falador. | Cp. PERERÉCA, PARARACA.
TERNO, e. m. - grupo: um terno de meninos, um terno de amimais: "E qual é o durão dêste
terno? O durão, sem dúvida alguma, é o Astolfo". (V. S.).
TERRÃO, torrão, s. m. | Existe também em Port.
TETÉIA, s. f. - brinquedo de criança, coisa bonita: "aquela moça é uma tetéia" - "Ele arranjou a
casa de geito que ficou uma tetéia". | Muito se tem já escrito sobre a orig. deste voc., mas a
discussão ainda está longe de ser esclarecida.
TETERÊ-TETÊ, int. que, intercalada na oração, vale quase por um advérbio de tempo, como
"freqüentemente", "a cada momento", "a todo instante": "Aquilo é home perigoso: teterê-tetê, tá
armando barúio!" -"Nunca vi gente como esta: teterê-tetê, um bailinho; teterê-tetê, um pagóde!" |
Sem muitos elementos para julgar, quer-nos contudo parecer que esta curiosa onomatopéia
(porque evidentemente disso se trata) tenderia dantes a dar idéia do rumor de um rápido
discurso ou discussão. Assim, o primeiro exemplo poderia ser interpretado: "Aquilo é homem
perigoso: uma troca de palavras, uma ligeira discussão, e ei-lo a provocar desordem". Depois,
com o uso, ter-se-ia ampliado a aplicação desse meio expressivo a outras circunstâncias, em
que a sua interpretação se torna menos fácil. Eis a explicação que nos ocorre. Não
esquecemos, porém, que resta explicar porque se popularizou tanto, e não só em S. P., essa
curiosa onomatopéia. Cherm. colheu na Amaz. com idêntico sentido, tétété, de cujo emprego dá
este exemplo: "O Manuel Domiciano tétété está na taberna do alferes Luís bebendo cachaça".
TICO, s. m. - uma pequena quantidade, um bocadinho: "Me dê um tico de fumo pr'um cigarro" |
Mais freqüente no diminut.: tiquinho, usado em todo ou quase todo o Br. "Mas não se vá,
homem de Deus, espera aí um tiquinho..." (C. R.).
TIÈTÊ, s. m. - avezinha do gên. "Euphone". | Decompõe-se em "tiê + etê". Tupi.
TIGUÉRA, s. f. - lugar onde houve roça, depois da colheita:
- Intão, compadre, como foi de caça?
- Ara, nem diga! Abaxo da tigùéra
bem pra riba do rumo do Colaça,
dexei sòzinbo o Sarvadô de espera.
(C. P.).
TIJUCADA, s. f. - grande quantidade de TIJUCO.
TIJUCO, s. m. - lama. | Tupi.
TIJUQUÊRA, s. f. - muito TIJUCO.
TIMÃO, s. m. - casaco curto e singelo, geralmente de baeta e sem forro, usado, há tempos,
pelos escravos, e também pelas crianças. | Do clássico quimão, queimão (hoje substituído pelo
anglicizado "kimono"). - G. Viana define: roupão amplo que usam os japoneses. Diz M. Dalg.
que tal definição quadra ao roupão que usavam muitos indivíduos em Goa, e que agora vai
rareando e tomando o nome de "cabaia". Mas o t. continua a aplicar-se ao casaco curto e largo,
de raparigas pobres e inuptas, feito de chita ou chêla. No dialeto de Macau (diz sempre Dalg.)
"queimão" é casaco, assim de homem, como de mulher. - J. Brígido regista o t. como de uso
antigo no Ceará.
TIMBÓ, s. m. - nome de vários vegetais empregados por pescadores de rio para tontear o peixe.
| Daí atimbòado, zonzo, tonto.
TINGUÍ, s. m. - várias espécies vegetais dos gêns. "Phaecarpus", "Magonia" e "Jacquinia",
também usadas, como o timbó, na pesca fluvial.
TIPITÍ, s. m. - cesto ou outro receptáculo em que se espreme a mandioca ralada.
TIRA-CISMA, s. m. - aquele ou aquilo a que se pode recorrer com toda a confiança: "Aquêle
dotôr é tira-cisma em negócio de devogacia". | Cisma, no caso, eqüivale a pretensões, fumaças.
Tira-cisma quer dizer, pois, literalmente, - o que desfaz pretensões, o que acaba com alheias
jactâncias. Sinônimo: TIRA-PRÓSA.
TIRADÊRA, s. f. - pau que, nos carros de bois, serve de suplemento ao cabeçalho, ao qual se
liga com tiras de couro.
TIRADÔ(R), s. m. - pequeno avental de couro que os laçadores põem de lado, por cima da
virilha, para sobre ele firmar o laço.
TIRIRICA, s. f. - designa varias ciperáceas que constituem praga dos arvoredos.
TIRIVA, s. f. - ave da fam. dos papagaios, menor do que estes:
E as patativas
cantando sôbre o junco! E os bons caipiras...
e um bando barulhento de tirivas!
(C. P.).
TISIU, s. m. - pequeno pássaro. | Voz onomatopaica.
TITIA. forma pronominal de tia.
TITICA, XIXICA, s. f. - excremento de ave.
TITIU, titio, forma pronominal de tio.
TITUBIÁ(R), v. i. - ficar perplexo, apatetar-se. | São mais vulgares as formas tutubíá(r), turtuviá
(r).
TOBIANO, q. - diz-se do animal cavalar pampa com manchas azulegas. | De Tobias (brigadeiro
Tobias de Aguiar), segundo informações.
TOCAIA, s. f. - esconderijo onde o caçador aguarda a passagem da caça, ou o agressor a da
vítima escolhida. Daí as expressões:
DE -, à espreita; de emboscada.
FAZÊ(R) - pôr-se à espera, fazer emboscada. | Do tupi, seg. uns; do guar., seg.
outros.
TOCAIÁ(R), v. i. - fazer TOCAIA. | Garc. colheu essa forma e mais "atocaiar", em Pernamb.
TOMBADÔ(R), s. m. - lugar onde há queda de água; essa mesma queda. | Alter. de
tombadouro. Na Bahia, encosta íngreme (B. - R.).
TÓPE, s. m. - pião posto no centro do círculo, no jogo da corrióla, servindo de alvo às ferradas
dos outros piões.
TOPETUDO, q. - que tem topete; audacioso.
TÓSSE-CUMPRIDA, s. f. - coqueluche.
TÓSSE-DE-CACHÔRRO, s. f. - acesso de tosse rouca e impetuosa, na coqueluche, ou em
qualquer outra afecção de garganta. No Pará, chamam à tosse-comprida "tosse de guariba" (B. -
R.).
TOVÁCA, s. f. - pássaro formicaroide. | Tupi.
TOVACUÇÚ, s. f. - variedade de TOVACA.
TRAIBÁIO(S), s. m. pl. - padecimentos. | É acepção castiça.
TRABUCÁ(R), v. i. - trabalhar esforçadamente: "Quem não trabuca não manduca" (adágio pop.).
Acidentalmente trans.: "... nunca deixei de não trabucar a minha obrigação nas horas certas (V.
S.) | Cp. o cast. "trabajar", com a pronuncia peculiar do j.
TRABUCO, s. m. - espécie de espingarda de um só cano, de grosso calibre, empregada
geralmente em salvas, nas festas da roça. | Trabuco era nome de certa "máquina de guerra que
teve uso antes da artilharia" diz F. J. Freire (3.º v., p. 57). -
Não lhe aproveita já trabuco horrendo,
Mina secreta, aríete forçoso -
(Camões, III, 79).
TRAMA, s. f. - trato, negócio.
TRANCA, q. - malandro, ordinário: "Aquilo é um tranca".
TRANCO, s. m. - chouto, andar (de animal de sela); encontrão. | Em port., salto.
TRANQUINHO, dimin. de TRANCO; ramerrão: "Como lhe vai?" "Ora! sempre no mesmo
tranquinho".
TRAQUE, s. m. - pequena b6mba de forma cilíndrica, com que brincam as crianças; explosão
de gás intestinal. | Em ambos os sentidos é de velho uso na língua, como se vê no "Foguetário".
Exemplo de Gil V.:
Quando eu, rua, por vós vou
Todolos traques que dou
São suspiros de saudade -
("Pranto de Maria Parda".)
TRAQUEÁ(R), v. i. - soltar gases intestinais com estrondo.
TRAVÁGE(M), s. f. - carne esponjosa nas gengivas dos equídeos.
TRELÊ(R), v. i. - mexer; intrometer-se: "Não trêla no que não é de sua conta". | Conjuga-se
trelo, trele(s), trele, trelemo; trela, trela(s), trela... etc. - De tresler? De trela?
TRELENTE, q. - o que tréle, o que gosta ou tem o hábito de. tocar em coisas ou assuntos que
não são da sua conta; intrometido, indiscreto.
TRELÊNCIA, s. f. - ato ou efeito de trelê(r).
TROCÊ(R) v. t. e i. - desviar-se; desviar o corpo; fazer volta; mudar de rumo em caminho: "Troci
um pouco, passei pr'o sobrado, esbarrei logo c'a dita moça". (V. S.)
TROCHADO, q. - diz-se do cano de espingarda que é feito de uma fita de aço em espiral. | Com
esse nome se designou outrora um lavor de seda, seg. Freire.
TRÓLE, s. m. - veículo muito usado no campo, para transporte de pessoas. Consiste,
resumidamente, em duas tábuas cruzadas sobre quatro rodas, com dois assentos, um dos quais
para o bolieiro. | Do ingl. "trolley".
TROMBETEÁ(R), v. t. e i. - assoalhar (alguma coisa); dar à língua.
TRÓPA, s. f. - caravana de bestas de carga, comboio; manada de equídeos, quantidade desses
animais; fig., corja, cambada (de marotos, de ladrões, de patifes, de estúpidos).
TROPÊRO, s. m. - negociante de animais equídeos, que viaja com eles; condutor de tropa de
equídeos.
TROSQUIA, tosquia, s. f. | "...os cabelos seus são coredios, e andavam trosqujados de
trosquya alta..." (Caminha).
Dous porquinhos trosquiados
Coinchar não nos ouvistes?
(Gil V., "Rubens").
Eu tenho as unhas cortadas,
E mais estou trosquiada -
(Gil V., "Inês Per.").
"...fazeme a barba farteey a trosquia". ("Eufros.", I, sc.2.ª). -"Hivos embora, & olhay não vades
por lãa, & venhais trosquiado". ("Eufros.", III, sc. 2.ª).
TROTEÁ(R), v. i. - andar a trote (a cavalgadura); fig., andar de pressa, despachar-se, sob alheia
instigação, ou sob a pressão de necessidade urgente: "Coitado, tava tão quéto im casa, e de
repente teve que troteá!" | A forma port. é trotar, mas o nosso povo da roça tem decidida
preferência pelas formas freqüentativas: trotear, barrear, bolear, etc.
TROTEADA, s. f. - caminhada a trote; viagem rápida a cavalo; corrida.
TROTÃO, q. - animal que trota.
TRÓTE, s. m. - andar duro e cadenciado (de animal equídeo). Difere da signif. port. -
"andamento natural dos cavalos".
TRUCADA, s. f. - uma vez, uma jogada ou mão de truque; o ato de TRUCAR:
Cheguei agora, moçada.
já escol meu cumpanhéro:
quem é bão nua trucada,
rebusque quarqué parcêro!
(C. P.).
TRUQUE, s. m. - jogo entre quatro parceiros, cada um dos quais dispõe de três cartas. | É este
o mais popular dos jogos de cartas, no interior de S. P. e de quase todo o Br. Em S. P. joga-se
com as seguintes cartas, pela ordem dos valores: os dois, os três (bicos), o sete-oro (sete de
ouros), a espadia (espadilha), o séte-cópa (sete de copas), o quatro-pau (quatro de paus), ou
zápe. Faz parte da pragmática do jogo levá-lo sempre com pilherias e bravatas, umas e outras
geralmente acondicionadas em fórmulas estabelecidas.
- DE MANO, variedade que se joga entre duas pessoas.
TRUQUÊRO, s. m. - jogador de truque.
TRUCÁ(R), v. i. - o ato de provocar o adversário, no jogo do truque, antes de uma jogada. | O
que truca exclama, em regra: truco! O adversário manda, ou corre. Se manda, na dúvida de
fazer a vasa, é geralmente com a frase - Bâmo vê, ou - Jogue. Se tem a certeza de ganhar, ou
pretende amedrontar o outro, responde com ênfase, às vezes aos gritos: Toma seis! - Seis,
papudo! - E diga porque não qué!" e outras bravatas por esse estilo.
- DE FARSO: trucar sem carta que assegure o lance, só para amedrontar o adversário; fig.,
fazer citação falsa, alegar fatos não verdadeiros.
TUBUNA, s. f. - abelha silvestre. | Tupi.
TUCANO, s. m. - designa diversas aves trepadoras do gên. "Ramphastos".
TUCUM, s. m. - designa várias palmeiras dos gêns. "Bactris" e "Astrocaryum", cujas fibras, de
grande resistência, são muito empregadas em cordoaria rústica. | É a "tucumã" do Norte. - Tupi.
TUIM, s. m. - pequena ave da fam. dos papagaios.
TUTA-MÉIA, s. f. - pequeno valor, quantia insignificante; "Não faça quistã por essa tuta-méia". |
Derivado, segundo J. Moreira ("Estudos", 1.º vol.) de "uma pequena moeda de cobre da África
Port.". Convém notar, porém, que Moreira e com ele o "Novo Dic." escrevem tuta e meia, ao
passo que a forma corrente em S. P. e como vai indicada, - sem e entre os dois elementos e
com é aberto em meia.
TUTUVIÁ(R), TURTUVIÁ(R), TITUBIÁ(R), v. i. - ficar perplexo, pasmar, hesitar: "Cuidado cum
esse muleque: se tutuviá, êle tomô conta de vacê!"
TUTUVIADO, TURTUVIADO, q. - perplexo, tonto, pasmado, hesitante:
Fico meio turtuviado;
gentarado, carro, bonde
e em toda parte um sordado.
(C. P.).
Eta barúio do inferno!
Fiquei meio turtuviado.
(C. P.).
Paiva regista titubiado entre os seus termos condenáveis: indício de que este curioso voc. é
ainda uma importação.
TUTÚ, TUTÚ-DE-FEJÃO, s. m. - feijão virado, isto é, feijão cozido que se mistura com farinha
de milho ou de mandioca, ao fogo, no momento de servir.
UAI! UIAI!, intj. de surpresa ou espanto: "Houve, porém, aparição menos esperada. - Uai, gente!
Passei a mão, nesta horinha, maginem lá no que?" (V. S.) | Deve ser alter. de olhai.
UnA, uma, adj. num. | É a única forma conhecida do caipira e, na língua, é a forma pop. e
clássica.
UÉ! UÊ! intj. de espanto. | Talvez provenha de olhai por oiai -> uiai -> uai -> uéi -> uêi, formas
estas existentes todas no falar caipira. De troca de ai em éi há exemplos: téipa, réiva. - Contudo,
há quem dê a esta intj. origem africana.
UÉI-ME!, intj. de impaciência: "Aquerditá nessa bobiciada! Vacêis (es)tão que nem criança, uéime!"
A última sílaba é muito rápida. Cp. HAME, alter. de homem, também usada como intj.
UNTANHA, s. m. - espécie de sapo.
URUNDÚVA, ORINDIÚVA, s. f. - certa árvore do mato. | Tupi.
URÚ, s. m. - ave da fam. das Perdíceas:
Sobre a folhagem sêca da floresta
cantam urus. É quase ave-maria.
(C. P.).
| Tupi.
URUCUNGO, s. m. - instrumento músico usado por pretos africanos: consiste num fio qualquer,
esticado num arco, à maneira de arco de seta, com uma cabaça numa das extremidades,
servindo de caixa de ressonância. Sobre esse fio o executante bate a compasso com uma
pequena vara. | T. africano.
URUCURANA, s. f. - grande e bela euforbiácea, de que se conhecem duas ou mais espécies. |
Tupi.
URUTAU, s. m. - ave noturna da fam. "Caprimulgidae", que habita o mato virgem. | A lenda do
urutau é das mais conhecidas do folclore regional, e tem sido contada por vários escritores. - O
t. é tupi e, segundo B. - R., usado também pelos guaranis do Paraguai.
URUTÚ, s. f. - certa cobra venenosa. | B. - R. dá como t. do Paraná, mas é também paulista, e
dos mais vulgares.
UVÁIA, s. f. - fruto de uma mirtácea de grande e belo aspecto; a árvore que o produz. | Segundo
B. Caet., do guar. "ybá" + aia", fruto azedo.
UVAIÊRA, s. f. - a árvore da UVAIA.
VACÊ, VANCÊ, VASSUNCÊ, VOSSUNCÊ, alterações de vossa-mercê, como o você de uso
culto. A primeira forma é mais familiar; vancê, mais respeitosa; as outras, ainda mais
cerimoniosas do que essa. Ha outras: vamicê, suncê, mecê.
VAPÔ(R), s. m. - locomotiva de estrada de ferro; locomóvel.
VAQUEANO, s. m. - indivíduo que conhece minuciosamente determinada porção de território. |
Voc. usado nas repúblicas hispano-americanas e, seg. B. - R., vem de "baquia", nome que os
espanhóis deram, depois da conquista do México, aos soldados velhos que nela haviam tomado
parte.
VARÁ(R), v. i. - caminhar direito, resolutamente: "Fronteemo aquêle primeiro capão da chacra
do Chico Manuel, fomo varando". (V. S.).
VARANDA, s. f. - sala de jantar.
VARANDA(S), s. f. pl. - guarnições laterais das redes de descanso, geralmente em "filet", com
franjas. | Também usado no Norte.
VAREJÃO, s. m. - vara comprida com que se impelem canoas e botes.
VARIÁ(R), v. i. - proferir frases e vocábulos desconexos, por efeito de delírio.
VARIEDADE, s. f. - ato de VARIAR.
VARRIÇÃO, s. f. - ato de varrer.
VASSO(U)RINHA, s. f. - vegetal da fam. das Sapindáceas, de lenho escuro, veiado e manchado
de preto.
VEIACO, velhaco, q. - diz-se da cavalgadura que tem manchas, habituada a dar corcovos.
VEIAQUIÁ, velhaquear, v. i. - corcovear (a cavalgadura). | Também usado no R. G. do S.
VEIÊRA1, abelheira, s. f. - casa de abelhas indígenas.
VEIÊRA2, velheira, s. f. - pessoa muito velha.
VELÁ(R), v. t. - pôr ao relento (batatas doces). | Só conhecemos o t. aplicado à batata. - Em
port., há avelar - encarquilhar (como avelã?), velar de vigilare e velar de velare. O nosso t.
talvez se ligue ao primeiro. E de notar-se que, no Norte, se diz "velado" o coco cuja amêndoa
está solta.
VÊ(R), v. t. - nas frases que começam por é vê(r), é vê(r) que... eqüivale a dir-se-ia, afigura-se,
parece: "É vê que veio da invernada do Xavié..." (C. P.) "O Antónho é vê que tá doente". "Mecê
é vê seu avô". | Por mais estranho que tudo isto pareça, explica-se facilmente. A principio, tratarse-
ia de um circunlóquio muito natural, em frases como as seguintes: "Olhe aquele pobre rapaz:
é ver um fantasma". - "O Pedro não pára; anda, corre, desanda, - é ver um macaco". Com o
tempo, ter-se-ia perdido a consciência do valor lógico dessas palavras, sendo elas tomadas
como um só vocábulo (évê) com função igual à de parece. Dai a grande ampliação de seu
emprego. E de notar-se que também se diz evê, com o primeiro e ensurdecido, e até
simplesmente vê: "Aquele que vem lá não é o Chico? - Vê que não".
VERDADE, s. f. - na loc. "de verdade", equivalente à moderna em verdade, na verdade. |
"Dizemee Nunalurez de verdade faziees vos esto que asy começastes?" ("Cron. do Cond.", Xl).
VERDEGÁIS, s. m. - corda de viola, usada em varas de pesca.
VERÊDA, s. f. - na loc. "de vereda" e semelhantes: de seguida, sem interrupção, de uma vez:
"Passô por aqui numa vereda, nem oiô pra tráis".
VEVÚIA, s. f. - bexiga, tripas de animal: "...tendo ao ombro o bornal de iscas, pequenos
lambaris, passarinho sapecado, vevúia de boi, minhocucu". | Alter. de borbulha. Atesta-o o uso
que se faz deste último voc., na sua acepção de bolha, vesícula, sob aquela mesma forma;
atesta-o a existência de vevuiá(r) - borbulhar. No Ceará, seg. Cat., se diz "burbuio":
viu um "burbuio" de sangue
do tronco véio corrê!
Colhidas todas as variantes possíveis, no Br., talvez se verificasse que o "bubuiar" amazônico,
onde se quer ver um radical indígena, não passa de simples alteração do mesmo borbulhar,
com translação de sentido.
VIAJADA, s. f. - caminhada, viagem: "Pra não voltar c'as mãos abanando e não perder a
viajada, entendi de romper pro cafesal..." (V. S.).
VIRÁ(R), v. t. e i. - misturar, pôr em desordem, transformar, transformar-se. percorrer em todos
os sentidos: "O minino virô tudo naquela gaveta". - "A gente do sítio virô o triato nua estrivaria" -
"Padre José, depois de morto, vira santo" -"Essa muié há de virá mula sem cabeça" - "Já virei
esse sertão de tudo geito".
VIRA-BOSTA, s. m. - pássaro conhecido.
VIRADO, VIRADINHO, s. m. - comida que se mexe ao fogo, com farinha: virado de feijão, virado
de couves, etc.
VIRGE(M), s. f. - mourão, poste de moenda.
VISGO, visco, s. m.
VISGUENTO, q. - viscoso.
VÓRTA DA PÁ, volta, s. f. - paleta.
XARÁ, q. - indivíduo que tem o mesmo nome de outro. | Há outras formas, para o Norte:
"xarapim", "xera". Do tupi. - No R. G. do S. se usa, em vez de xará, ou de qualquer de suas
variantes, o cast. "tocayo".
XERGÃO, s. m. - espécie de manta de lã ou pele que se coloca sobre a cavalgadura, por baixo
da carona. | De enxergão.

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